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sábado, 22 de julho de 2017

Resenha Literária By Folheando Resenha

Artesão das Águas: poesia / João de Jesus Paes Loureiro. 3. ed. - Belém: Paka-Tatu, 2014. 80p.

Este livro foi gentilmente cedido pela Editora Paka-Tatu.

 João de Jesus Paes Loureiro é um dos poetas mais importantes da literatura contemporânea brasileira. Nasceu em Abaetetuba, Pará, às margens do rio Tocantins. Recebeu o prêmio de poesia da Associação Paulista de Críticos de Artes com Altar em Chamas e indicação como finalista do Prêmio Jabuti com o romance das Três Flautas. Tem obra publicada em diversos países como França, Alemanha, Japão, Itália e Portugal. É professor de estética, história da arte e pesquisador da cultura amazônica. É mestre em teoria literária e semiologia pela PUC de Campinas e Doutor em Sociologia da Cultura pela Sorbonne, Paris. Participou com poemas visuais da X Bienal de Artes Plásticas de São Paulo e da obra A Vanguarda Visual Brasileira – 50 anos depois da semana de arte moderna, organizada por Roberto Pontual. De sua poesia escreve Benedito Nunes: “Para o crítico de o Movimento Modernista (Mário de Andrade), radicação era implementar a raiz da arte e da poesia ‘na entidade coletiva nacional’. Paes Loureiro, que transcende os traços localistas, implanta-a na entidade coletiva regional que não é senão a cultura própria das populações ribeirinhas definhantes, como modalidade de cultivo imaginário, em boa parte oriunda das populações indígenas hoje desagregadas... Ele digeriu o universal humano da cultura nativa, depósito do inconsciente que se exterioriza em circunstancias particulares de fala e pensamento imagético”.

A primeira coisa que senti quando abri de modo inaugural, o livro do poeta paraense João de Jesus Paes Loureiro, foi um frio percorrer-me a espinha. Pode parecer exagero tal sensação, todavia, da mesma forma que ler Paes Loureiro é um afago na alma, resenha-lo é um compromisso que exige graus (sim, no plural) de seriedades e delicadeza – já explico o porquê.

O livro de poemas, intitulado Artesão das Águas, publicado pela editora Paka-Tatu, encontra-se em sua 3ª edição, e o ano de sua primeira publicação é de 2014. Ora, em tão pouco tempo um livro alcançar três edições não é para qualquer autor, tampouco qualquer título, inda mais quando se trata de um livro de poesia – tema que muitos adoram destacar os melhores versos e colá-los em seus murais de redes sociais, todavia não se propõe a ler o poema inteiro. Aos idos dos meus 32 anos de idade (por gentileza, não me considerem como velho), desde os 12 anos que me dedico à literatura, nacional e internacional – estou longe de ser um profundo conhecedor da mesma-, afirmo embaraçado, que infelizmente tardei em conhecer uma obra tão singular como a deste autor que resenho.

Agora direi o porquê resenhar tão importante nome da literatura nortista e nacional - sim, Paes Loureiro é leitura obrigatória em diversos vestibulares e estudado por diversos críticos e acadêmicos-, é um compromisso sério e delicado, eis a situação: abrindo o livro deparo-me com uma introdução que ocupa oito páginas redigidas pelo profº Wenceslau Otero Alonso Júnior, Proº titular da Universidade Federal do Pará, todavia o leitor pode indagar-me assertivamente: mas cada um enxerga o que lhe convém numa obra! E eu direi: exatamente. Contudo, qualquer leitor que se proponha a falar sobre determinado autor, haverá sempre de saber sobre o que fala. Pois bem, deixo de lado a exaltação e a apreensão e parto para o que realmente interessa: resenhar Paes Loureiro.

Um livro de 80 páginas, tendo um rio de águas brancas – eis o termo que os biólogos usam para definir os tipos de águas barrentas-, que lhe ilustra a capa. Pode-se esperar duas coisas ao observar a capa: um livro profundo e agitado, e um livro sereno e corrediço.

A poesia de Paes Loureiro, no livro Artesão das águas, tem a tranquilidade da palavra “Dissolvo-me no limo das palavras/ entre Helenas, arcanjos e boiunas/ ouvindo Circe cantar/ em Maiandeuas onde o amor se perdeu/ e eu te perdi.”. Não se trata apenas de uma Amazônia poemada, trata-se, substancialmente, de nos encantarmos com a poesia que o autor nos oferece ao utilizar como elemento poético o cenário das águas, o imaginário amazônico que navega pelo rio e mergulhar nas profundidades da palavra e “penetrar umidamente gruta do poema”.

Ao livro destino a pergunta, impressa em poema, do próprio autor: “o que me deste de ti?/ Uma palavra.../ Um sonho em busca do sentido / que se perdeu em mim”. O que a poesia nos dá? Busca-se qual sentido na poesia? São respostas variadas, todavia uma conclusão é certa: a poesia é o sentido da alma. Basta nos perguntarmos: o que faz um artesão? O Artesão das Águas compõe poemas que mergulham no íntimo da palavra, que nos apresenta um mundo submerso dentro da imaginação e da sensibilidade do espírito humano. Estende-se para além das margens da imaginação e do sentimento. Engana-se quem pensa que poemas falam somente do amor entre homens e mulheres, infeliz é quem não enxerga poesia no soprar do vento, no remanso das águas, no bater de asas de um pássaro, e, quem sabe, no olhar do outro fique a pergunta: “O que te dei de mim/ senão a dúvida?/ A dúvida./ Essa lívida certeza/ retesada entre as margens de um abismo.../ Quando quiseres saber esse que sou/ espia o rio”.

A poesia encontra-se dentro de nós, basta olharmos para dentro e observamos que assim como Paes Loureiro foi um Artesão das águas, podemos nós sermos mestres do encanto que repousa dentro dos olhos, escondido no peito, esperando a palavra que nos faça navegantes de poemas itinerantes. “Permitamos haver em nosso peito/ as núpcias do inferno e o paraíso.”.

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