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quarta-feira, 13 de abril de 2016

KG Kati - BRÍZIDA - CAPÍTULO II - Projeto Livro


BRÍZIDA - A SAGA DE UMA BRUXA
CAPÍTULO II


Naquele dia, Anton acordou sentindo-se vigiado. Abriu seus olhos verdes e olhou em volta do pequeno quarto da pensão de Dona Ananda. Nada. Tudo exatamente como havia deixado na noite anterior. Num sobressalto, pegou a arma escondida embaixo do colchão, levantou-se devagar e andou pelo quarto, de ceroulas e o peito nu, até chegar à janela de frente para a rua. Nenhum movimento lá fora. Um barulho o fez virar-se em direção à porta do quarto, com a arma em punho, com a sensação de que alguém estava ali, bem à sua frente, mas não havia nada.
 
- Quem está aí? Posso sentir sua presença, apareça! - Abriu a porta e saiu para o corredor, cuidadosamente, preparado para atirar a qualquer movimento. Estava só. Sentiu somente um perfume de flores no ar. Sem ignorar totalmente sua intuição que sempre fora o motivo de sua eficiência, vestiu-se, calçou as botas, guardou a arma na cinta e desceu as escadas que levavam à sala do café.

O café já estava posto. Donanda, como era chamada pelos seus hóspedes, acabava de colocar na mesa um delicioso bolo de fubá que Anton adorava. Ela era uma senhora simpática e amável, cozinhava deliciosamente bem. Conhecia Anton desde que ele chegara à Saint Louis. Fora apresentada a ele pelo prefeito Sr. Adams Rivers, que pretendia alugar um quarto em sua pensão para o rapaz, enquanto prestasse serviços para a cidade.
Ao ver Anton descendo as escadas, encheu uma xícara de café com leite e ofereceu ao rapaz que a pegou e sentou-se à mesa, cortando uma fatia de bolo.
 
- Bom dia, Donanda! Cheirinho especial aqui, hoje. Obrigada pelo bolo. Sei que fez especialmente pra mim. - Anton sabia ser gentil retribuindo com um sorriso o carinho da velha senhora. - Diga-me, Donanda, percebeu algum movimento estranho na pensão, hoje? Alguém que tenha pedido um quarto, algum estranho na casa?
 
- Não, querido, somente os hóspedes de sempre. Por quê? - parou para encará-lo enquanto tirava a mesa, com vários pratos e talheres na mão.
 
- Nada demais. Só para saber. Avise-me se alguém estranho chegar está bem? - Terminou seu café, levantou-se e beijou-a no rosto. Encaminhou-se à porta, pegou seu chapéu pendurado na parede, juntamente com os outros no porta-chapéus e saiu para a rua.
 
- Claro Anton. Avisarei. Tenha um bom dia! - gritou sem saber ao certo se ele ainda a ouvia. Seria mais um dos pressentimentos de Anton? Desconfiava que sim.

Flutuando a dois passos de Anton, totalmente invisível por sua magia, Brízida o seguia através das ruas. Conseguia sentir o cheiro delicioso que ele exalava. Tinha observado-o dormir durante a noite toda, ao lado de sua cama, sem saber ao certo a razão. Só precisava estar ali, olhando-o, estudando-o.
 
Como ele percebeu sua presença se teve o cuidado de lançar o feitiço do desaparecimento? Por que não conseguiu bloquear o contato? Houve momentos em que achou que ele conseguira vê-la, mas a conversa que ele teve com Donanda a tranquilizou. Ele sabia que tinha algo errado, mas não havia identificado o que era realmente. Brízida poderia poupar a vida dele mais um tempo. Precisava saber o que o fazia ser especial. Com um estalar de dedos, a bruxa tornou-se visível e começou a segui-lo de longe. 

Queria um confronto.
 
Anton seguiu caminho até o gabinete do prefeito Rivers.


Ao entrar no gabinete, Anton esperou enquanto Adams Rivers terminava a conversa ao telefone. Conseguiu ouvir parte dela e sabia que se tratava de Irons Dalton, empresário de Marien Vitch, e tratava da hospedagem da famosa ilusionista em Saint Louis para sua apresentação.
 
- Consegui trazê-los, Anton! Eles virão em outubro, na festa do Walloween. O show vai ser um espetáculo e tanto! - Adams voltou-se para Anton, enquanto apontava com a caneta para o folder das atrações anuais de Halloween que estava sobre a mesa.
 
- Certamente, prefeito. A festa será incrível. - Apesar de concordar, Anton não se sentia à vontade nessas festas populares. Achava tudo uma extravagância desnecessária, onde as pessoas se excediam em tudo, bebidas, ânimos alterados, encrencas. Preferia a cidade calma e pessoas sóbrias. - Quando vão chegar?
 
- No primeiro dia do mês de outubro. Passarão o mês todo na cidade organizando os shows. O espetáculo será no dia trinta e um, como encerramento da Festa. - Levantou-se e se dirigiu à porta de saída, com Anton ao seu lado. - Preciso falar com o banqueiro da cidade de New Jersey. Acertar sua hospedagem para outubro e ver se conseguimos mais algum patrocínio. Como é mesmo o nome dele?
 
- Jeff Hoffman, senhor. Aqui o cartão. 
 
- Não sei como esse banqueiro ficou sabendo das nossas festividades, Anton, eu gostaria que você ficasse atento a qualquer movimento estranho enquanto eles estiverem aqui. Mas, não podemos desperdiçar essa chance de termos Saint Louis nas notícias em um jornal local na cidade grande, não é? - O Sr. Rivers sorriu com gosto, enquanto discava o número da portaria da prefeitura.
 
- Sim, senhor. Estarei de olho.  E essa ilusionista é muito famosa na capital. Ele deve estar pagando muito bem. Provavelmente está procurando uma aventura no interior. Espero que não arranje encrenca por aqui. - Anton encaminhou-se para a rua. - Nos vemos mais tarde. Preciso comprar munição.
 
Ao sair para a rua a primeira pessoa que viu foi uma moça a quem não conhecia, mas, de quem jamais esqueceu o olhar, visto há muitos dias atrás.
 
Brízida andava graciosamente do outro lado da rua poeirenta. Seus cabelos loiros e longos balançavam, emoldurando seu rosto delicado. O vestido longo e armado deslizava pelo corpo esguio, ajustando-se na cintura, moldando-lhe a silhueta.
 
Anton não conseguia desviar o olhar do andar suave da misteriosa moça de costas à sua frente. Apressou o passo para não perdê-la de vista. Quem seria ela? O que a trazia a Saint Louis? Para onde estaria indo? Por que Anton tinha a sensação de que precisava saber tudo a respeito dela?
 
Seguiu seus passos para além do centro movimentado, entrando em uma rua sem saída. Achou estranho ter visto a moça ir em direção a uma velha casa abandonada localizada entre alguns terrenos baldios. Sua silhueta inconfundível escondeu-se ao longe, por detrás das paredes e janelas sujas, entre muitas árvores e galhos secos espalhados por todo o lado.
 
- Ei! Alguém aí? - Aproximou-se mais, devagar, olhando por entre os arbustos abundantes e viçosos que cresceram demais, tapando a visão do jardim que devia ter sido, outrora, muito bem cuidado. - É perigoso para uma moça como você andar nessa estrada deserta. Deveria tomar mais cuidado! Se eu a segui, qualquer um poderia ter feito isso, moça.
 
Anton ouvia o farfalhar de folhas a alguns passos, mas a moça não se mostrava. Somente sentia um perfume de flores que lhe parecia familiar. E então, novamente o silêncio. Estaria fugindo?
 
- Onde você está? Sei que veio para cá. Quero vê-la! - Anton pode ouvir o som da respiração tão perto que parecia sentir o hálito quente tocar seu rosto. Virou-se, de repente, sentindo o perfume mais intensamente. E a viu. Seu rosto lindo, a boca carnuda, o intenso brilho do olhar, a pele macia e seu corpo tão perto, que poderia abraçá-la. E foi esse o desejo que teve. Senti-la junto a si.
 
- Por que você quer me ver? Por que você me segue? Não tem idéia de quem eu sou.  - De súbito, Brízida afastou-se, soltando um murmúrio como se tivesse sido apunhalada. Leu nos olhos do rapaz o desejo de envolvê-la em seus braços e estremeceu. Suas mãos tornaram-se iluminadas, seus cabelos balançaram com o vento forte e repentino que envolveu a ambos e ela ergueu os braços, prestes a jogá-lo ao chão com um feitiço, mas algo a impediu. Com os olhos faiscando de raiva e surpresa.  - Como ousa? Afaste-se! Você jamais terá sua resposta...
 
- Não quero machucá-la! Pode confiar em mim! Diga-me por que eu tenho a impressão de conhecê-la? Tão bem quanto a mim mesmo! - Anton deu alguns passos em direção a ela na intenção de tocar em seu rosto, prender seu corpo a si, o que fez Brízida agir rápido fazendo um movimento circular com os dedos da mão em direção ao galho de árvore acima deles, o que o fez se partir e cair, fazendo-o afastar-se para não ser atingido. - Cuidado!
 
Viu os galhos caírem sobre Brízida, fazendo-a abaixar-se e sumir debaixo deles. A ventania aumentou e juntou-se ao ruído de um trovão. Um raio atingiu outra árvore próxima, fazendo outros galhos grandes caírem perto de Anton. Às pressas, retirou-os um a um, cuidadosamente, procurando pela moça em vão. Não sabia como fora possível, mas não havia mais sinal dela.

KG Kati


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