Incertezas Do Amor
BIANCA
Mudei-me para São Paulo aos 23 anos. Queria ter uma vida diferente.
Terminei a faculdade de Administração, e queria trabalhar e investir bastante na minha carreira. Com a vontade de ser independente, deixei minha família em Pernambuco. Estou morrendo de saudades, mas fora preciso, eu precisava dar uma repaginada na minha vida.
Já passei por muitas coisas difíceis nessa vida e trago comigo cicatrizes que o tempo não foi capaz de curar.
Comecei a minha nova vida alugando um apartamento pequeno. Eu tinha um dinheiro guardado, - não muito - o suficiente para me sustentar por alguns meses. Peguei as minhas coisas, arrumei da melhor forma possível, comprei alguns móveis e outras coisas necessárias, e liguei para casa avisando que estava tudo bem, e pronto: a minha vida estava seguindo o seu rumo!
Passado alguns dias, fui procurar um emprego (não que eu precisasse procurar um tão cedo, mas eu não conseguiria ficar em casa sem fazer nada). Dei uma volta no bairro e passando por um Café muito charmoso de nome B&M Coffee, percebi uma placa dizendo: “Precisa-se de funcionários, urgente!” Resolvi deixar o meu currículo e ver o que acontecia. Ao decorrer de alguns dias, me ligaram marcando uma entrevista.
A decoração por fora era sensacional, mas eu me surpreendi mesmo quando entrei. A beleza pairava no estabelecimento. O que me chamou atenção foram as mesas tradicionais e as poltronas coloridas; mas as cores eram muito suaves e pareciam muito confortáveis; as paredes eram beges – o que dava uma equilibrada no ambiente – e nelas tinham quadros de todos os tamanhos, muito coloridos e continham fotos de famílias ou paisagens incríveis. Enquanto eu olhava distraída, chegou um homem e se apresentou como Bruno Rodrigues, o dono do Café, e meio tímida me apresentei e logo fomos ao seu escritório. Nesse intervalo de tempo, pude perceber o quão Bruno era charmoso: olho azul, mas quase verde, alto, sarado, loiro, parecia ser bem calmo, no caminho ele cumprimentava as pessoas, bem sorridente. Tenho que admitir ele era muito carismático.
Fui entrevistada por ele mesmo que ficou surpreso com a minha graduação (eu tinha vários cursos técnicos mais a faculdade de ADM). Conversando, descobri que ele tinha mais dois cafés em bairros diferentes e que o nome do Café era das iniciais do seu nome e o de sua mãe Maria, “uma senhora muito simpática e muito trabalhadora” – dizia Bruno, com orgulho. Encerramos a entrevista e nos despedimos. Dois dias depois, recebi uma ligação do dele e logo fui contratada como a sua gerente.
***
UM ANO DEPOIS...
Acordo com o despertador. Droga! Esqueci-me de desligar! São 05h30min da manhã, isso lá são horas? Mas, como não consigo pegar no sono novamente, levanto-me e vou ao banheiro tomar um banho. Coloco uma roupa confortável, pego o meu fone de ouvido e vou correr me desligando do mundo.
Já na praia, de repente alguém esbarra em mim e caio com a bunda no chão. “Que ótimo! Era só o que me faltava!” Começo a xingar a pessoa, mas quando olho para o idiota...
Meu Deus! Que homem é esse? Morri e fui para o céu? Alto, moreno, olhos azuis, corpo atlético... Isso só pode ser uma miragem! Mas que porra é essa que eu estou pensando? Saio do meu devaneio quando escuto a sua voz.
- Moça, você está bem?
E que voz! Ele deve ser um molhador de calcinha profissional! “Para, sua idiota!” penso comigo mesma, “esse cara te derrubou, mas ele vai ter uma lição!”
- Machucou? – Notei certa má vontade em seu tom de voz.
- Não, estou bem. – Respondo, limpando a areia da regata com as mãos. Olho para aqueles lindos olhos e me controlo para parecer furiosa. – Mas, da próxima vez, veja se olha por onde anda! - Levantei ignorando a sua mão estendida, e limpando o meu short.
- Como é que é? É cada doida que me aparece! Voc..
- Escute aqui! – cortei-o apontando o dedo na cara dele - Eu não sou doida coisa nenhuma, seu mal educado!
- Ah, não? Então você tem o costume de sair esbarrando nas pessoas?
- Quer saber de uma coisa? Chega! E tomara que eu nunca mais tenha que olhar na sua cara, idiota! – Virei-me, dando as costas a ele.
- Escute bem! – Senti a sua mão segurando meu braço. Espero que ele não tenha notado que arrepiei com o seu toque. - Ninguém dá as costas para mim enquanto eu estou falando!
Viro-me para ele e solto: - Já que você quer falar, eu só vou te dizer só uma vez! - Tento me mostrar indiferente àquilo que percorre todo o meu corpo, e quase grito para ele: - Fale com a minha mão, seu babaca! - Saio quase aos tropeções, deixando um gostosão atônito e emburrado para trás.
Chegando ao apartamento, tomei um banho rápido e fui trabalhar. O Café já estava aberto e tudo organizado. O trabalho começou e os clientes começaram a chegar. Ainda bem que todos nós já estávamos acostumados.
De repente, entra o cara mal educado da praia. Tento me esconder por trás da vitrine de bolos, e acho que funciona, porque ele passa sem olhar para os lados e vai subindo direto para a casa do Bruno. “Hum, que estranho!” – reflito em pensamento. Depois de um bom tempo, ele desce já tomado banho e, ao contrário do que imaginei que poderia ficar, mais lindo. “Nossa, que carinha gostoso” – falo com meus botões. Só então que eu começo a juntar todas as peças do quebra-cabeça... “Ai, meu Deus” – imploro pensando - “Não pode ser! Não pode ser! Esse cara não é o...?”
***
PABLO
Eu olho por um bom tempo para ela naquele Café abafado, porém confortável, e não duvido nem um pouco que estou com uma expressão de retardado, ao reconhecê-la.
Quando esbarrei nela na praia, e ela caiu de bunda (que eu não hesitei em dar uma conferida) no chão, mal consegui conter o riso ao vê-la esbravejando alguma praga para mim.
- É cada doida que me aparece. Você... - dizia eu quando ela me cortou. Ninguém interrompe Pablo Rodrigues enquanto ele fala, poxa! Provoco-a, tentando demonstrar-me irritado, e ela diz que não quer mais ver a minha cara. Bom, parece que os céus não atenderam as preces dela. Aqui estamos nós nos encontrando de novo!
- Ora, ora se não é a doida da praia! - digo dando um sorriso torto.
- Já te falei que não sou doida! - ela retruca com o rosto já ficando vermelho - E o que você está fazendo aqui? Por acaso é um perseguidor?”
- Você trabalha aqui? – ignoro a sua pergunta e a questiono, já sabendo a provável resposta.
Ela me olha furiosa, mas não responde.
- Nossa! – Passo a ponta do dedo indicador em uma mesa próxima, como se conferisse se tinha poeira e volto a olhar para ela. - Só falta você me dizer que seu nome é Bianca!
Ela franze as sobrancelhas. - Para o seu desgosto, sou sim, e daí?
- Ai, meu Deus! Eu mereço! - Falo sarcástico - Meu primo me paga! – olho ao redor, fingindo descontentamento, para tentar não olhar para aquela beleza que era ela.
- Ah! Então você é o Pablo! – A voz dela está um pouco trêmula. - Eu já deveria saber!
Espera um minuto! Como ela sabe o meu nome?
- Como sabe meu nome? Não me apresentei a você!
- Eu trabalho para seu primo há um ano e ele já tinha me falado sobre você...
Interessante, então eles conversaram sobre mim. Mas o que será que o Bruno falou?
– O que o Bruno te falou sobre mim, hein? – pergunto com a testa franzida.
- Nada demais. – Ela abaixa a cabeça e fica fazendo traços no chão com a ponta do pé. - Apenas que você é um mulherengo, mas que leva seu trabalho a sério e é o seu contador pessoal. – Ela levanta subitamente a cabeça e olha em volta - Por falar em Bruno, cadê ele, hein? Não o vi o dia todo, isso é muito estranho. Sendo responsável do jeito que ele é...
- Primeiro, – começo – devo confessar que ele não te falou nenhuma mentira. Segundo, tia Maria passou mal e ele foi levá-la ao hospital. Eu ia te avisar, mas...
Ela fica pálida na hora.
- Como assim? Dona Maria passou mal e você não me disse logo, estrupício? Preciso ir vê-la imediatamente. - Ela praticamente grita, então explico a situação:
– Olha Bianca, acabei de falar com o Bruno e ele falou que tia está fazendo alguns exames. Os médicos estão suspeitando que ela sofreu um acidente vascular cerebral, mas não podem afirmar antes de receberem os resultados desses exames. - Mostro um pouco desespero - o que não é fingimento - porque a minha tia é a minha segunda mãe. Noto que Bianca fica desesperada também e começa a fazer beicinho – que lindeza! – querendo chorar...
– Um AVC é muito sério, Pablo, dona Maria não merece isso. E o Bruno, coitado, deve estar precisando de uma amiga. Eu vou para lá agora mesmo!
– Bianca me escuta, - peço - ele pediu para eu te avisar, que é para você ficar aqui cuidando do Café, já que ele não sabe quando volta. Só assim ele ficará mais tranquilo; e quando houver alguma novidade, ele nos avisará.
– Okay, eu fico, mas estou muito preocupada. – ela fez uma expressão de pena que quase me fez ir abraçá-la, mas resisto. - E se ela não suportar?
Gelei na hora que escutei isso, pois era o meu maior medo no momento. Agora tenho certeza que quem ficou pálido fui eu, mas mesmo assim, tentei confortá-la:
- Ela é forte, Bianca, não vamos ficar tão nervosos. - Respiro fundo e quando olho para ela, a vejo chorando. Nessa hora, faço uma coisa que não fazia há muito tempo: puxo uma mulher para um abraço e sussurro: - E sei que você me odeia e tal, - a sinto sorrir - mas que tal uma trégua pelo menos hoje?
Ela olha para mim e fala:
- Certo. Mas não espere que eu caia de amores por você, até porque, eu não esqueço jamais quem me tratou mal... Pablo! - Ela desfaz o abraço e sai, me deixando mais uma vez sem palavras. Não é fácil admitir, mas algo me diz que estou completamente ferrado e totalmente na mão dessa mulher!
***
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