15:50, estou posicionado
estrategicamente do outro lado da rua, com uma visão ampla sob a entrada da
pastelaria. Combinamos encontrar-nos aqui para finalmente nos conhecermos, já
falávamos on-line à três meses, sem que nunca tivéssemos visto o rosto um do
outro.
No meu pensamento nem sequer
tentei imaginar a tua imagem, apenas conhecia o que projetavas de ti nas
palavras, tão diferente da mulher com quem passei os últimos 11 anos, tinha
saído de um relação há já 8 meses, um divorcio difícil, pois nenhum dos dois percebia
o porque de a relação ter acabado, mas sabíamos apenas que tínhamos chegado ao
fim, nem sequer falávamos um com o outro!
Seria este o meu primeiro encontro, com uma mulher, alguém que com tudo
o que tínhamos falado eu me identificava, descreveu-me a roupa que traria, e o
sinal, um livro com capa cor-de-rosa. Quando ontem me disse que viria de saia
preta e blusa branca, não pude deixar de rir, ao imaginar a minha ex. com essa
indumentária, ela que detestava saias, e muito menos blusas. Sabia que tinha
uma coisa em comum, detestavam atrasos, algo que eu também abominava.
15:55, distraído com os meus
pensamentos, uma imagem desperta-me atenção, não acreditava no que estava a
ver, a minha ex. acaba de entrar na pastelaria, o Ceus, que faz ela aqui? Logo
hoje? Estamos do outro lado da cidade, não mora ou trabalha aqui, mas que raios
ela cá veio fazer. Até aqui, agora ensombra a minha vida?
Não podia ter escolhido outro lugar?
15:58, Merda, distrai-me, agora
não sei se ela entrou ou não, se já chegou, ou como chegou, a minha ex., sabe
mesmo estragar tudo há minha volta. Atravesso a rua numa tentativa de verificar
de tinha chegado, ó céus, junto ao lado
direito, de costas para a vitrina, saia preta, confere, blusa branca, confere,
livro com capa cor-de-rosa, confere, é ela! Tento do exterior avistar a minha
ex. nada, provavelmente deve ter ido ao WC. Encho o peito de ar e avanço
decidido, no balcão peço uma água castelo como combinado, pago e avanço para a
mesa.
Tudo no chão, água, copo, queixo,
dentes, cara, tudo, não podia acreditar… a mulher com quem tinha falado, por
quem me tinha voltado apaixonar, era a mesma de sempre a minha ex. a
perplexidade do seu olhar diz tudo, também ela foi surpreendida. Passa do o
susto inicial, sentamo-nos em silencio, apenas falando com o olhar, como foi
possível?...
Alberto Cuddel







Postar um comentário