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sábado, 28 de maio de 2016

Casados & BDSM


Melhor do que falar sobre escravas casadas é estender o assunto para as pessoas casadas em geral, pois é a realidade de boa parte daquelas que passeiam pelo Universo BDSM.

Os “Casados” aqui são pessoas com qualquer tipo de relacionamento no mundo baunilha, e o que deve ser observado, são os motivos que as levam permanecer neste relacionamento, enquanto buscam algo que as complete em outro universo.

Já coloquei no texto “transição” a minha opinião sobre as relações baunilha e baseado no que sempre observei à minha volta, acredito que estas têm uma validade ou tempo certo para expirar, variando de casal para casal. Contudo, são fadadas ao fracasso, pois já começam mal desde o início.

É um fracasso relativo, pois acontece apenas para quem varre a própria natureza para debaixo do tapete e se conforma com isso. Com certeza, a maioria nasceu mesmo para ser baunilha, incluídos 92,5% dos que teimam em se achar e passear pelo BDSM.

O mundo baunilha no que tange às relações humanas tem duas características marcantes. Aparências e hipocrisia. É o mundo da superfície, da imagem. Você é julgado primeiro pela sua conta bancária, pelo que veste ou pelo carro que dirige.

É o mundo da hipocrisia, pois existe uma insistência geral em se buscar um equilíbrio de forças dentro de relações humanas, onde o equilíbrio simplesmente não existe. E como já falei tantas vezes, estes baunilhas que ficam se achando mais do que são, quando trazem para dentro desse universo estes valores tão primitivos, são uma das maiores causas das distorções que vemos no BDSM e adjacências.

Vida dupla

O mundo baunilha é um grande mal necessário, afinal de contas, aonde iriam se situar aquelas “pessoas da sala de jantar que ficam ocupadas em nascer e morrer” da música panis at circencis? E “esses humanos que circulam pelas cidades aí afora” da música do Supla? Coitados... ficariam perdidos.

Mas a opressão da natureza é tanta, que mesmo para algumas pessoas baunilhas, não dá para aguentar. E se formam algumas camadas superiores a partir das erupções formadas por essa “pressão”. Casamento aberto e o swing são os efeitos nas pessoas mais evoluídas. Para as menos evoluídas, sobra a vida dupla, formada basicamente pelo adultério ou mesmo o sexo pago.

A vida dupla não é a mais honesta, mas é algo absolutamente comum dentro do mundo baunilha, e infelizmente, muitas vezes inevitável para aqueles tem algum tipo de impedimento externo ou para os que não têm coragem de assumirem o que são. Além disso, a natureza humana sempre nos conduzirá para atitudes que mantenham o equilíbrio.

Por outro lado, não vou me ater aqui aos motivos que levam as pessoas a "pularem esse muro" e sim, aos seus efeitos. Falar dos motivos pelos quais uma relação não dá certo é algo que por si só daria um belo tratado sobre as relações humanas. Até porque, já falei em outras oportunidades, que o problema não está nos formatos de relações e sim na escolha dos parceiros, isso valendo para tudo, amizade, sociedade comercial, casamento baunilha e relações BDSM.

Particularmente, nunca tive problemas em interagir com pessoas envolvidas em relacionamentos do mundo baunilha, por julgar que eram relacionamentos que ocorriam em outra dimensão. Mas isso era em outra época, bem no início da minha estrada. Hoje em dia, só vou interagir com um ser baunilha, se este estiver absolutamente comprometido a transcender para o BDSM e se tiver alguma relação baunilha, a relação vai se limitar ao nível de play partner.

Penso hoje que é imperativo que um ser baunilha, antes de pensar em um mergulho completo no Universo BDSM, escolhendo ter apenas esse tipo de relação, já tenha passado por todos os níveis de relacionamento do mundo baunilha. Já ter cometido todos os erros e acertos no mundo baunilha é algo que, indubitavelmente, facilita na escolha do BDSM como estilo de vida

Adúltero e baunilha apimentado

Acho que as grandes questões em relação às pessoas “casadas”, ou seja, as que têm relações no mundo baunilha (único lugar onde a palavra “casada” cabe) estão exatamente em como este “casamento” é levado junto com a relação BDSM.

Se a relação BDSM é levada de forma paralela e escondida, não é uma relação BDSM, pelo simples fato de que é uma atitude não muito inteligente se dar nome a coisas que já tem nome. Mas é bom sempre lembrar que a maioria das “coisas” tem nomes e até abordagens diferentes, dependendo do ponto de vista.

Se a relação principal é a baunilha e você esconde as outras, você não é um Dom ou sub, você está cometendo adultério e por conseqüência é um adúltero e ponto, isto pela ótica baunilha é claro.

Mas a ótica aqui é outra, é BDSM. No texto “Apresentando os Sem Noção”, falo de um tipo de gente ruim que existe em todos os universos. E entre esses estão a maior parte dos “adúlteros” que cito neste texto.

O melhor exemplo da exceção está na pessoa presa por circunstâncias realmente maiores do que a capacidade dela em se desvencilhar e que vai para o BDSM viver a sua natureza. Neste caso ela tem um proprietário ou submisso e vive de fato a hierarquia de que o BDSM é formado de forma independente da relação que tem no mundo baunilha.

Sendo assim, a escolha de viver de forma real uma relação de hierarquia que é base do BDSM, se submetendo ou dominando de verdade, se sobrepõe às relações de outras dimensões. E como são coisas que acontecem em dimensões de relacionamento diferentes, julgo não só aceitável como também inevitável.

Não deixa de existir, portanto, o adultério pelo ponto de vista baunilha. Porém, quando se ultrapassa a fronteira para o Universo BDSM, e ali o ponto de vista baunilha é irrelevante, a bolha BDSM se forma sendo irrelevante as circunstâncias fora desse círculo.

Para os Sem Noção, a relação baunilha é sempre a principal e estes vem para o BDSM apenas e tão somente, pela facilidade de se ter parceiros absolutamente convenientes e controláveis. 

Tanto como pseudo-submissos passivos e obedientes ou pseudo-dominantes querendo apenas o sexo fácil e apimentado que o adúltero quer e tem para dar.

Certa vez, disse a um amigo Dom, “Um verdadeiro Dominador, quando casado no mundo baunilha, têm que começar dominando a sua escrava número um, que é a sua esposa.” A minha maior satisfação foi vê-lo com a sua esposa numa festa temática, logo na semana seguinte.

BDSM como estilo de vida

Numa conversa deliciosa num 24/7, com pessoas que realmente importavam, falaram: “mas as pessoas do BDSM erram nisso... erram naquilo... e o papo ia em direção dos desvios e distorções. Eu disse uma coisa lá que vale para o “aqui e agora”... não adianta falar sobre os que erram, devemos falar para os que acertam e para os que querem acertar.

E o certo é viver sem mentiras e de forma pura e cristalina. Quando você é casado e de alguma forma percebe a existência do Universo BDSM, duas direções lógicas podem ser seguidas: pode mostrar o que descobriu para o seu parceiro e junto com ele fazer a transição ou aprender todas as técnicas disponíveis no BDSM e cercanias, para apimentar a relação.

Quem percebeu e quer viver o BDSM deve saber dos riscos de se apresentar o novo Universo de possibilidades ao parceiro. Muita coisa pode acontecer. Coisas que vão desde um grande despertar de curiosidade, passando por um estado de indiferença e chegando ao limiar da rejeição.

É uma grande escolha e que vai depender exclusivamente do quão evoluído é o parceiro, pois é mais fácil para um baunilha primitivo julgar o outro como doente mental ou pervertido. O melhor é ir vem devagar e abordar a novidade como algo para tornar a relação sexual mais interessante, ou seja, “brincar” com seu cônjuge.

No caso deste parceiro não ter um potencial de dominância ou mesmo a mente aberta para novas possibilidades, o casal pode (e deve) lançar mão de todas as práticas e técnicas dos universos superiores para apimentar a relação.

Depois da finalizada a transição, o BDSM pode ser levado tranquilamente como estilo de vida e o Dominante pode fazer de uma das suas posses uma escrava 24/7 e apresentá-la como cônjuge no mundo baunilha, neste caso esta posse tendo todos os direitos legais que uma relação estável proporciona.

Quando o caso é de uma das partes já ser um Dominante ou submisso dentro do BDSM, a coisa já tem outro foco. Não é uma descoberta simultânea e sim a de uma parte já experiente apresentando ao parceiro algo que já entende, gosta e vive.

Para o Dominante é mais fácil, pois é da sua natureza treinar, doutrinar, ensinar, cuidar, proteger e em ampla maioria, os submissos são recrutados diretamente do mundo baunilha.

Para o submisso já é mais complicado, pois se para um Dominante treinar um submisso é árdua, a tarefa de fabricar um Dominante a partir de um parceiro baunilha é algo impossível.

No meu texto “Fabricando o Parceiro” cito que em todos os casos que observei a tentativa de se fabricar um parceiro BDSM dominante invariavelmente termina em frustração. Todas as pessoas que vi tentarem... falharam miseravelmente. E foi justamente isso que os levaram a buscar parceiros BDSM fora da relação baunilha.

Como o Universo BDSM ocorre na existência de hierarquia, o que na realidade não vai dar certo, é a tentativa de se construir uma pessoa que saiba lidar com o poder em um espaço curto de tempo. Dominar é fácil, exercer o poder é a parte difícil.

Concluindo

Casamento é um rótulo que define um dos formatos das relações possíveis dentro do mundo baunilha. E também é uma palavra que pode ser emprestada para outros usos metafóricos.

Muitos falam de uma sociedade comercial ou parceria de qualquer tipo como sendo um bom “casamento”. E dessa forma metafórica, um bom “casamento” pode ocorrer em qualquer universo e para ser verdadeiro deve vivido de forma pura e cristalina.

Em relação ao casamento literal, o do mundo baunilha, o principal a ser lembrado é que as dimensões são formatos de relacionamentos que ocorrem em níveis diferentes. Pessoas casadas no mundo baunilha não só podem, mas devem, em minha opinião, transitar por outros universos, desde que, quando em trânsito, venham a se adequar aos valores destes universos.

Um Dominante deve começar pelo domínio e o controle do que acontece em sua própria casa e tanto Dominantes como submissos não devem de forma alguma esconder dos seus parceiros baunilhas a sua verdadeira natureza. Isto é o que eu faço e que recomendo.

Em relação aos Dominantes em específico, não sou muito tolerante a que algo seja escondido da pessoa com quem mora e divide a vida. Não vejo, por mais que tente, exceções onde um verdadeiro Dominante precise esconder do cônjuge sua atividade BDSM.

Nos casos onde isto não for possível e que por força maior, um parceiro baunilha não tenha como “abrir” seu lado BDSM para o outro, acho lícito que viva a sua natureza BDSM da maneira que for possível, sendo muito pior a tentativa de se reprimir ou ignorar a questão. Varrer para debaixo do tapete algo de grande volume acaba fazendo um grande calombo neste. Algo que em algum momento vai causar um belo tombo.

Verdadeiros “casamentos” acontecem em um nível acima de todos os universos dos relacionamentos humanos. Órbitas que, às vezes mais próximas, às vezes mais distantes, e ainda outras com a excentricidade dos cometas que passam períodos distantes e ocasionalmente mergulham até bem perto ficam numa dimensão superior onde se situa o magnetismo que atrai uma pessoa para outra e que as fazem gravitar.

O que posso adiantar agora é que os melhores “casamentos” independem do tipo de pessoas que os compõem. Eles apenas acontecem.

(GLADIUS MAXIMUS)

Parceria BDSM Society

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