Porque me Amava XXI
Há dias assim, em que o facto de me saber amada em ti, com a plena convicção de que te sabes amado em mim, deixam pura e simplesmente de existir, são varridos da memória, por nada existir a recordar. Existem dias em que verdadeiramente nada existiu, chegamos, deitamos, dormimos, acordamos, tratamos da nossa individual exigência higiénica, trocamos maquinalmente um terno beijo, e simplesmente partimos.
Não sei se nestes dias sem memória existimos verdadeiramente, provavelmente não, são consequência profunda de profissões desgastantes, em que o corpo apenas suporta a mente, exausta, extenuada, são dias e dias de uma completa abstinência, nada existe, cumprimos apenas o plano laboral traçado, e que tudo corra pelo melhor até ao próximo descanso.
Não sei se chegamos a viver esses dias, provavelmente não. Hoje como ontem não vivemos, quem sabe, viveremos amanhã, no tempo que amanhã, o tempo nos dará, ou então no dia seguinte, ou nos outros dias que se seguirão.
Pois há dias, que serão nossos, dias que te darei a ti, dias que receberei em mim. Engraçado, mas a melhor prenda que oferecemos um ao outro é tempo, o tempo em que nos damos e nos entregamos. O nosso tempo, o tempo em nós, o tempo em que verdadeiramente formamos as memórias do passado.
Hoje não temos tempo, mas tempo houve, que mesmo com tempo, tu não o davas, eu não o recebia, até que chegou o tempo em que sem tempo, sentimos a falta do nosso tempo conjunto.
Hoje não temos tempo, nem talvez amanhã, mas teremos todo o tempo depois de amanhã!
M. Irene Cuddel®
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