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terça-feira, 8 de setembro de 2015

Alberto Cuddel - Escolhi Amar-te II



5:45- Ao longe um som abafado martela-me os ouvidos, distante, como um comboio, que se vai aproximando. Acordo, num acordar letárgico, sem vontade de acordar, sem vontade de fazer absolutamente nada, apenas ficar, ali, deitado. Sim, ficar deitado, dormir não, afinal já tinha acordado. Já de luz acesa tateio o teto com o olhar, procuro algo, uma ideia, um sinal, uma luz, e ela está lá, a luz, fitando-me nos olhos, tão intensamente que me obriga a fecha-los, a luz tinha um olhar intenso, brilhante, compenetrado a sua missão de iluminar.

Olho de relance o teu sono, dormes, como poderias não dormir? Perfeita na tua imobilidade, como um anjo, adormecido num sono divino. Contemplo o teu rosto, relembro o reu sorriso de ontem, as parcas palavras, no parco tempo, que ontem permanecemos juntos, e hoje? Reedição de ontem, acordei, sairei sem que acordes, chegarei sem que tenhas chegado, e quando chegas? Estarei eu novamente de saída.

5:50- O Tempo, essa corrida apresada do movimento continuo dos ponteiros do relógio, levanto-me de uma vez, não há forma de lutar contra a inabitabilidade de ter que abandonar o meu leito, na dor de me abandonar a mim, na solidão em que te deixo. Percorro passo a passo as distâncias, num pesado passo que me agasta, que me afasta de mim.

5:55- A verdadeira corrida contra o tempo, vestir, preparar, tomar pequeno almoço, o saco, verifico se tenho tudo, uma e outra vez, todo eu entrei em modo “piloto automático”, ações e gestos ensaiados, maquinalmente repetidos até à exaustão.

6:00- Estou pronto, ok, check up final, carteira? Está, telemóvel? Está, chaves? Está, saco? Está, chinelos? Chinelos? Lol, ok… algo falhou, pouso tudo, corrida ao quero, olho-te uma ultima vez, beijo-te, tão delicadamente que nem te chegas a mover. Sussurro um Amo-te…

6:05- Ok finalmente sapatos, rodo lentamente a chave na fechadura da porta, porta que se abre ao mundo, fronteira, entre o desejo e o ter que ser, entre o nosso mundo, e o “mundo”. Fecho-a, pesarosamente atras de mim, como se guardasse um sonho, o nosso sonho, com a certeza, que a ela hoje voltarei…


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