Mais uma
vez parti,
Uma viagem
de ida e volta,
Levei
amor, deixei saudade!
Sim parti,
mas voltarei!
Não amanhã
talvez depois,
Um dia
quando sentires a minha falta,
Ai estarei
a teu lado!
Olho à
minha volta,
Uma
solitária carruagem de comboio regional,
Lugares e
lugares vazios,
Repletos
de histórias
De amor,
odio, paixão e guerra,
Guerras
travadas na arrogância das palavras,
Amores de
palavras suaves e cheios de hipérboles,
Figuras de
estilo e figuras de estilo laçadas ao acaso,
Esperando
o sorriso do impacto!
Pouco a
pouco, meus lugares vazios vão ganhando vida,
Discussões
acaloradas sobre futebol,
Os
problemas domésticos,
Algures
discute-se filosofia,
Ou a
teologia dos leigos!
Do outro
lado da janela,
Escuridão,
reino das trevas,
Cintilam
distantes no firmamento estrelas,
Alheias ao
domésticos problemas,
Quem sabe
se algumas delas
Já não
fazem parte da nossa temporal realidade!
Fixo o meu
olhar no outro lado,
Um rio!
Seguindo meus passos
(ou os do
ritmado rolar da carruagem)
Reflexos
infindáveis de luzes,
Vão
realizando um bailado
(não o dos
cisnes, mas o da luz)
Subitamente,
O regresso
das trevas,
Fixo-me
nas confusas conversas
Da minha
solitária carruagem,
Faço uma
pausa,
Olho o
infinito…
Quebra,
algo me prende o olhar,
Uma
menina, dessas das historias de adormecer,
Que
ternamente se contam as crianças
A caminho
do doce mundo dos sonhos.
Passeia-se
pelo corredor,
Mostrando
seu dotes de modelo profissional,
Na sua
inocente imaginação,
O sujo
corredor do fim do dia,
É uma
famosa passerelle de Paris,
Espera os
aplauso do publico,
(nós meros
passageiros)
Sinto-me
tentado a faze-lo,
Aplaudir
sua beleza,
Não o
faço, talvez por timidez,
Olha-me
nos olhos
Toda
aquela ternura de menina me invade a alma,
Um ataque
súbito de timidez
Corre para
os braços da mãe.
Sei que
devia fazer algo útil,
Mas
disparo palavras no papel,
Mas o meu
pensamento voa,
Para o
recente passado,
Penso
nela,
Revejo
como em filme todos o momentos,
Que
ternamente hoje passamos juntos,
No meio de
toda esta gente,
Estou só!
O cansaço
abate-se sobre o meu corpo,
Os olhos
pesam-me, sono,
Levanto-me
passeio-me pelo corredor,
Pela
passerelle da minha menina,
Olho à
minha volta,
Na vã
esperança que ninguém esteja a olhar,
E imito os
seus passos,
Caindo no
ridículo,
Sinto-me
de novo criança,
A quem tudo
é perdoado!
Minha
pequena modelo me olha nos olhos,
E diz à
mãe:
- vês,
vês, aquele senhor também é modelo!
Felizmente
a mãe não a ouvia resmungando com o marido!
Abro os
olhos, sonhava, não abandonara o lugar!
Resta-me a
saudade, voltarei um dia…
Para junto
de ti, em nova viagem…
Em outro
lugar junto à janela!
Algures na
linha do Douro,
24 de
Outubro de 1993
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