Trilogia As fases do amor
Às voltas com o Amor
Livro 1
Sinopse
Tiago se declarou e Anne se entregou ao amor, como só se
pode fazer uma vez. Se amaram e doze anos depois ela ainda não consegue
esquecer daquela noite, das palavras trocadas e da sensação de abandono na
manhã seguinte. Mesmo com toda a mágoa por ter sido abandonada, Annelise seguiu
sua vida. Porém ela nunca mais foi a mesma. Pesadelos revivem momentos que ela
deseja esquecer. Qualquer par de olhos verdes a faz lembrar de tudo o que
perdeu. Segredos são guardados por Anne e também por Tiago, segredos que terão
que ser revelados. O que aconteceu com Anne depois que Tiago foi embora? Porque
Tiago teve que abandonar Anne logo após se declarar? O que acontece quando o
primeiro e único amor da sua vida, retorna depois de doze anos e resolve que
não pode esperar nem mais um dia para ficar ao seu lado? Será que todos esses
anos, longe um do outro pode os ter transformado a tal ponto de não ser mais
possível um relacionamento entre eles? Descubra tudo isso e muito mais em Às
Voltas Com o Amor, um livro romântico, emocionante e com cenas quentes, que
vai te encantar do começo ao fim.
Prólogo
20 anos antes
– Você não pode pedir figa quando eu estou quase te pegando. Isso não vale. – Tiago disse, fazendo cara de frustrado.
– Posso sim. Você não falou nada sobre isso quando conversamos sobre as regras da brincadeira. – Respondi, como sempre, bancando a engraçadinha e colocando as regras a meu favor. – Além do que, combinado é combinado. Se não é combinado, está ralado.
Meu nome é Annelise Pimenta, tinha oito anos e estava brincando com meu vizinho Tiago. Além de meu vizinho, ele era meu colega de classe, apesar de ser um ano mais velho que eu. Ele sempre dizia que a dona Neide, mãe dele, não queria que ele fosse para a escola, até que um dia o pai dele obrigou-a a deixá-lo ir, como um garoto normal.
Parece que ele era doente quando era bebê e por isso dona Neide ainda o tratava como se tivesse dois anos.
Tiago era um garoto magrinho, sardento e de cabelo loiro. Ele tinha olhos verdes que sempre ficavam vermelhos quando ficávamos correndo no sol. As nossas mães sempre brigavam quando passávamos muito tempo brincando pelo nosso Bosque dos Segredos, mas era mais forte que nós. O Bosque dos Segredos era nosso lugar favorito no mundo. Ele ficava no final da nossa rua e não era muito grande, mas tinha muitas árvores e era bem isolado dos olhos curiosos e controladores de nossos pais. Ali podíamos fazer tudo o que nossas famílias não deixavam, como por exemplo, correr descalços e, no meu caso, soltar meus cabelos ao vento.
Assim como a mãe do Tiago, a minha também não era nada fácil. Ela não gostava de ver meu cabelo solto. Como ele era comprido e cacheado, acabava embaraçando e depois dava um trabalho enorme para penteá-lo, por isso minha mãe insistia em fazer um coque, no estilo bailarina, sempre que eu ia brincar. Coque que sempre desfazia quando chegava ao Bosque dos Segredos.
Apesar de ser muito magra, feia e desengonçada, conseguia correr e subir em árvores com facilidade, mas uma coisa me tirava do sério, enroscar meu cabelo em galhos e folhas.
Foi por isso que pedi “figa”, que era uma espécie de intervalo, na nossa brincadeira de polícia e ladrão. Enrosquei meu cabelo em um galho enquanto corria e precisei tirar as folhas que ficaram presas na minha cabeça.
– Ti, só espera um minutinho! Preciso tirar essas folhas e vou ser obrigada a prender meu cabelo, ou vai ficar sempre enroscando.
Tentei explicar o motivo, mas, como ele era um menino, não entendeu.
– Você poderia amarrar ele depois que eu pegasse você. Porque eu estava quase pegando. – Disse ele, ainda chateado por ter que ficar parado onde estava enquanto eu terminava de amarrar meu cabelo.
Como não era boba, aproveitei que ele estava distraído, terminei de amarrar o cabelo e corri o mais rápido que pude. Vi minha salvação a poucos metros: Uma árvore onde poderia subir e não seria alcançada pelo Tiago, porque ele não subia em árvores. Acho que ele tinha medo de altura.
Quando estava subindo, ele me alcançou resmungando e xingando, dizendo que eu era uma trapaceira. Enquanto eu tentava subir mais alto, ele segurou minhas pernas e me puxou para baixo, soltei uma das mãos para empurrar a cabeça dele, mas nesse momento me desequilibrei e cai em cima dele, o fazendo cair de costas no chão.
Foi muito rápido. Só consegui ouvir os nossos gritos assustados e depois senti a dor e a ardência no meu braço.
Na queda, Tiago e eu cortamos o braço em um galho que estava no chão. Meu braço esquerdo e o braço direito dele estavam cortados como se tivessem passado uma espada. Era uma linha reta que começava no braço dele e terminava no meu, ou vice-versa.
Nossas roupas, além de sujas, ficaram rasgadas. Meu vestido amarelo favorito estava com um rasgo enorme na manga e a camiseta azul dele também.
– Droga. Estamos ferrados. – Disse Tiago enquanto se levantava debaixo de mim. – Olha o estado da nossa roupa. Minha mãe vai me matar!
– Nosso enterro vai ser junto, porque a minha também vai me matar! – Eu concordei, falando lentamente, enquanto olhava com calma o tecido rasgado da camiseta dele ficando com uma cor mais escura.
– Ti, o que é isso? – Perguntei enquanto virava meu rosto para olhar o meu próprio braço e ver o líquido vermelho escorrendo.
Enquanto me sentia fraca e com a visão turva, consegui ouvi-lo dizer:
– É sangue, Anne.
Então a escuridão me dominou e eu apaguei com os dedos manchados de vermelho.
Capítulo 1
12 anos antes
Estava quase pronta. Faltava apenas um batom para completar o visual.
Estava me produzindo toda para ir à festa de aniversário de dezesseis anos da minha melhor amiga, Amanda.
Estava usando meu All Star preto de cano longo, saia jeans e uma camiseta babylook preta da Legião Urbana. Meu cabelo estava solto, chegando quase à minha bunda. Para completar o look, passei bastante lápis de olho preto e um batom cor de rosa. Olhei-me no espelho e me senti bonita. Tirando o fato de que esta era a primeira vez que meu pai me deixava ir a uma festa à noite e ainda “de quebra” dormir na casa de praia da Amanda.
Eu estava me sentindo bem calma.
“Ok! Mentira. Estava uma pilha de tão nervosa.”
Amanda estava fazendo dezesseis anos e resolveu dar uma festa na casa de praia dos pais dela, com a presença deles, é claro. Por isso que fui liberada para ir e dormir lá, isso e pelo fato que o Tiago também estaria na festa, mas o que os meus pais não sabiam é que os pais da Amanda eram super liberais e iam ficar boa parte da festa no andar de cima da casa, deixando o andar de baixo, o jardim e a praia totalmente livres para os adolescentes e não seriam poucos, já que Amanda convidou todos os alunos a partir da oitava série.
Apesar de o Tiago ir à festa junto comigo, ele não estaria efetivamente comigo, ele apenas estaria no mesmo lugar que eu, uma vez que brigamos.
Nossa amizade se manteve a mesma desde a infância até cerca de 6 meses antes, quando comecei a perceber que ele estava se afastando e me evitando. Certo dia, perguntei se estava acontecendo alguma coisa e ele me disse que estava com o tempo contado por causa dos cursos e aulas extras que os pais dele o obrigavam a ir. Não consegui acreditar e acabei dando o espaço que ele parecia querer.
Mesmo com a distância que surgiu entre nós, mantínhamos o ritual de conversar pelo menos uma vez por dia, nem que fosse apenas um “olá”. Na nossa última conversa, há duas semanas, no entanto, as coisas não terminaram nada bem. Ele estava nervoso, irritado e extremamente grosso, enquanto eu estava feliz da vida por ter ficado com um garoto do terceiro ano.
Ele sempre tinha sido meu confidente, por isso contei a ele como foi que acabei ficando com o Emerson. Depois de contar, ele não só foi grosso, como me ofendeu. Disse que eu era uma boba por pensar que um garoto do terceiro ano iria querer namorar comigo, uma pirralha. Quando expliquei que não queria namorar o Emerson, que havia sido apenas um beijo, ele riu e disse que se eu continuasse assim, iria acabar me tornando uma qualquer, uma garota mal falada pelos garotos. Uma vagabundinha.
Fiquei com tanta raiva que dei um tapa na cara dele, fui embora e não voltei a falar com ele novamente.
Aquele dia não seria diferente, eu continuaria o ignorando e aproveitaria ao máximo a festa.
Ouvi ‘Everybody’ dos BackStreet Boys tocando em algum lugar em meio à bagunça do meu quarto. Esse era o meu toque especial para mensagens de texto.
Era uma mensagem de Amanda.
“Passo aí em 5 minutos para te pegar. Esteja pronta. Prometi me comportar e papai prometeu deixar a casa liberada. Hoje é a minha noite!”
Digitei uma resposta rapidamente.
“Linda, pronta e esperando. Hoje a festa vai ser show, então.”
Quinze minutos depois, Amanda tocou a campainha da minha casa, acompanhada pelo pai. Enquanto eu pegava minha mochila com um pijama e mais alguns itens que precisaria, ouvi o pai dela conversando com o meu pai.
– Pode ficar tranquilo, José, vou ficar de olhos abertos neles. Por isso preferi que a festa fosse em minha casa de praia, porque tem espaço e, ao mesmo tempo, posso cuidar de tudo através das câmeras de monitoramento. Elas estão espalhadas pelo terreno todo. – Explicou tio Charles, como eu o chamava.
Enquanto ele continuava conversando com papai, Amanda e eu nos apressamos em ir para a varanda para conversarmos. Ela estava linda em seu vestido preto, que em minha opinião era curto demais, mas ficava belíssimo nela. Ainda mais com aquela sandália de salto alto, seu lindíssimo cabelo liso e extremamente preto, típico de descendentes de japoneses, o que é o caso de Amanda.
A abracei e entreguei a caixinha com meu presente para ela, desejando os parabéns e tudo de bom. A caixinha continha um colar com um pingente em forma de meio coração onde se lia palavra ‘Forever’. A outra metade do coração estava pendurada em meu pescoço, em um colar idêntico e nele a palavra ‘Friends’.
– Friends... – Comecei a dizer, enquanto puxava a corrente mostrando o pingente para ela.
– Forever... – Ela complementou, encaixando seu pingente no meu. – É lindo, Anne, amei. Obrigada. Ajude-me a colocá-lo.
Ela me entregou o colar e ergueu os cabelos. Fui para trás dela, ficando de costas para a porta e tentei colocar o colar em seu pescoço.
– Advinha quem me ligou ontem para perguntar se eu estaria sozinha na festa? Chuta. Duvido que você adivinhe. – Amanda disse animada.
Como eu estava lutando com o fecho do colar, acabei não pensando em ninguém e murmurei um breve: – Não sei.
– Tiago. – Ela disse com entusiasmo. – Você acredita nisso? Tiago, o seu Tiago. Será que ele está afim de mim?
Senti minhas mãos tremerem de raiva. “Aquele idiota passa duas semanas sem falar comigo, mas liga para minha melhor amiga para dar em cima dela? Idiota.”
– Se eu fosse você, não ficaria com ele. Além de ser um grosso, estúpido e calhorda, ele é um idiota de marca maior. – Eu disse para Amanda.
– Que bom que você me conhece tão bem, Anne. Ou eu pensaria que essa pessoa que você está descrevendo sou eu.
É claro que com minha sorte, ele iria aparecer atrás de mim bem na hora que o estava xingando.
– Oi, Amanda, parabéns! – Ele sorriu para ela e entregou um pacote de presente. Ela sorriu de volta, como se estivesse vendo o Justin Timberlake pessoalmente.
“Porque ele comprou um presente pra ela?”
– Obrigada, Titi. Não precisava. – Ela estava sorrindo e piscando pra ele na minha frente? Achei que fosse vomitar.
Ele dera pra ela um CD do N’Sync, que ela já tinha, mas é claro que ela disse que amou e ainda não tinha esse cd.
“Mentirosa e que história é essa de chamá-lo de Titi?”
Não aguentei mais.
– O que você está fazendo aqui, Tiago? Achei que não andava com uma qualquer? – Perguntei acidamente.
– Esqueceu que vamos para a mesma festa? Amanda me ofereceu uma carona e um lugar para dormir, assim vou e volto com vocês. – Ele respondeu calmamente, enquanto sorria para Amanda.
Furiosa com aquela situação, acabei descendo do salto e sendo muito rude com os dois.
– Vou deixar vocês dois aí, se comendo com os olhos e sorrisos e vou ali vomitar um pouco. Sintam-se à vontade. Deve ter camisinha em algum lugar da casa, caso vocês queiram partir para os “finalmentes”.
Dito isso, virei e sai em direção à sala, onde meu pai ainda conversava com tio Charles, mas não sem antes ouvir Amanda perguntar para Tiago: – O que deu nela?
Virei-me a tempo de ver um sorridente Tiago responder: – Não sei, vai ver ela ficou com ciúme da nossa amizade.
“Ciúme? Que história de ciúme? Eu estou é com raiva, muita raiva.”
Estava com raiva da Amanda, por ser tão boba e não ver que ele não gostava dela, mas estava com raiva principalmente dele.
Só porque ele era do time de natação da escola, era cobiçado por nove entre dez meninas, tinha aquele porte físico de nadador, com ombros largos, mãos grandes, pernas longas e musculosas, barriga de tanquinho, rosto quadrado, lábios lindos... Certo, era obrigada a reconhecer que ele era bonito, isso sem falar nos olhos verdes, as pequenas sardas e o cabelo castanho claro que eu adorava bagunçar, quando estava todo arrumadinho.
Mesmo sendo bonito, atencioso e fofo quando queria, ele não tinha o direito de dar em cima da minha melhor amiga. Com tanta garota aos pés dele, ele tinha que estar afim da minha melhor amiga?
“E porque ele deu um CD para ela, enquanto para mim ele só dava coisas sem valor?”
No meu aniversário de oito anos, lembro que ele me deu uma boneca que a mãe dele comprou, mas depois me entregou um soldadinho de chumbo e disse que aquele era o presente dele de verdade. Quando fiz dez anos ele me deu o seu boné e uma coleção de figurinha de jogador de futebol, mas no ano anterior ele se superara no presente, ele fez uma flor com o guardanapo da pizzaria em que estávamos jantando e teve a cara de pau de dizer que não havia comprado nada porque estava economizando para comprar um carro quando fizesse dezoito anos. Agradeci educadamente, disse que era linda e quando cheguei em casa guardei na caixa onde estavam todos os presentes que ele me deu ao longo dos anos.
Tio Charles me tirou das minhas lembranças irritadiças quando avisou que estava na hora de irmos.
Quando cheguei à porta, vi Tiago e Amanda andando lado a lado em direção ao carro, conversando e rindo. Outra onda de fúria se apossou de mim, junto com uma sensação de perda. Fiquei reparando a forma como os dois caminhavam juntos e o quanto eles pareciam realmente um casal. Até a roupa deles combinava. Ela estava toda de preto e ele também. Ele vestia um jeans escuro, All Star preto, camisa do U2 e um moletom preto com o desenho do violão da capa do CD da Legião Urbana. Aquele moletom tinha sido presente meu para ele. Não era para ele usar para ficar paquerando a minha melhor amiga.
“Ai que raiva! Que se danem os dois.” Pensei antes de sentar no banco traseiro do carro do pai de Amanda, bem ao lado de Tiago, que mesmo sem parecer perceber, estava entre uma Amanda toda sorridente, esperançosa e tagarela e uma Annelise completamente irritada, bufando, de cara feia olhando pela janela e pensando que deveria ter sugerido ao tio Charles que colocasse as caixas de salgadinhos e docinhos no banco de trás ao lado do Tiago, mas já era tarde. Tio Charles já estava a caminho da festa e eu teria que aguentar o corpo de Tiago colado ao meu, pelos próximos 45 minutos até à praia.
*~*~*
Chegamos à casa de praia antes de todos os convidados para poder ajudar na arrumação. Dona Helena, mãe de Amanda, já estava na cozinha organizando os comes e bebes, instruindo os dois garçons e a cozinheira que foram contratados para ajudá-la. Dona Helena, como boa anfitriã, organizadora de festas e eventos profissionais, já tinha tudo organizado e sob controle. Fomos liberados de ajudar na cozinha, mas fomos instruídos a verificar os outros cômodos da casa para ver se estava tudo em ordem.
Quando comecei a andar pela casa, meu queixo caiu. Tudo bem que a família da Amanda tinha dinheiro, já que eles eram donos de uma frota de caminhões de transporte de mercadorias, mas eu nunca achei que eles fossem gastar tanto com uma festa de aniversário.
Na sala de jantar, todos os móveis tinham sido removidos e no centro da sala havia sido colocado um piso quadriculado para fazer as vezes de pista de dança, com direito a um globo de luz enorme pendurado bem no centro e muitos balões de gás hélio espalhados pelo teto. No canto esquerdo da sala havia uma mesa de som e um pequeno palco que possuía vários jogos de luz colorida para dar à festa, cara de balada.
Em uma sala menor, que parecia ser a sala de televisão, os móveis foram reorganizados para poder acomodar um mini camarim com direito a penteadeira no estilo penteadeira da Barbie. Tinha maquiagem, perucas, fantasias, coroas, chapéus e tudo mais que se possa imaginar para uma festa à fantasia. Como complemento da sala, no canto oposto ao mini camarim havia uma quantidade enorme de aparatos de fotografia. O pano de fundo para as fotos era uma imagem ampliada de uma balada com muitos corpos desfocados simulando que estavam dançando.
Passei por todos os ambientes internos e fiquei encantada. A festa iria ser um sucesso, mas foi quando vi a parte externa da casa que tive certeza que a festa seria mais que um sucesso, seria um arraso!
Como a casa ficava de frente à praia, foram colocadas várias tochas para enfeitar o local e feita uma fogueira na areia. Mais próximo a casa, havia outra mesa de som, mas essa parecia ser a mesa do DJ.
A piscina estava cheia de balões dourados e brancos, que combinavam com o restante da decoração. Inclusive com a decoração das mesas que estavam espalhadas em volta da piscina.
Enquanto admirava o belo trabalho que tia Helena havia feito, percebi que Tiago vinha em minha direção. Não esperei por ele, sai andando o mais rápido que pude em direção à primeira porta que encontrei. Era a porta externa da cozinha.
Quando entrei, encontrei a cozinheira preparando alguns canapés e docinhos, me ofereci para ajudar e a cozinheira, que soube depois se chamar Amélia, me disse que não precisava, mas se eu queria mesmo ajudar poderia ir enfeitando alguns canapés com raspas de limão.
Era simples, bastava pegar as raspas que já estavam prontas em um prato e jogar um pouquinho em cima de cada canapé.
“Eu posso fazer isso. É fácil e simples.” Pensei.
Eu estava indo muito bem até sentir uma respiração suave em meu pescoço e um: – Eu preciso falar com você. – Sussurrado contra a minha orelha.
Neste momento todo o esforço de fazer as coisas direitinhas foi para o espaço. Deixei todas as raspas de limão que estavam na minha mão caírem em cima de apenas um canapé. Quando percebi e fui tentar retirar um pouco de cima, eu já estava tão nervosa que acabei colocando o braço em cima dos outros canapés que estavam ao lado, lambuzando todo o meu braço e estragando todo o trabalho que eu tinha feito. Quando vi que Tiago estava próximo da porta, me olhando e sorrindo com cara de pura diversão, fiquei ainda mais nervosa e na tentativa de sair do banco sem estragar mais nada, acabei derrubando dois copos que estavam em cima do balcão. Soltei um palavrão em alto e bom som e pude ouvir Tiago tentar inutilmente segurar o riso.
“O desgraçado está se divertindo com a cena que ele causou. Babaca.”
Quando me abaixei para juntar os cacos de vidro dos copos, dona Amélia já vinha com a vassoura e a pá de lixo para fazer isso. Claro que depois dessa, fui expulsa da cozinha e tive que enfrentar Tiago que me aguardava do lado de fora.
– Eu sabia que era uma questão de tempo para te expulsarem da cozinha. – Disse ele ainda com um sorriso bobo no rosto, enquanto eu, furiosa, seguia em direção à praia.
– Você fala como se eu não conseguisse fazer nada em uma cozinha. – Respondi frustrada.
– Te conheço há tempo suficiente para saber que você é tão desastrada que a cozinha vira um campo de guerra quando você está lá. – Ele ainda continuava sorrindo.
– Isso não é verdade. – Tentei desmenti-lo e ao mesmo tempo fazendo um esforço enorme para não sorrir. Falhei nas duas coisas.
– Não é verdade? Quantos copos e pratos você já quebrou? Panelas com comida que vão parar no chão magicamente? E a vez que você se esqueceu de pôr a tampa no liquidificador quando foi fazer suco de melancia? Passamos dias limpando a sujeira de melancia pela cozinha inteira...
– Ok, você venceu, sou um perigo ambulante, mas a culpa da tampa do liquidificador foi sua. Você a escondeu e depois me distraiu... – Fui obrigada a sorrir quando vi o sorriso dele sumir e se transformar em uma cara de inocência fingida.
– Ficamos com suco de melancia até na alma. – Ele respondeu rindo.
Continuamos caminhando em silêncio o restante do caminho até chegarmos à beira mar. Com nossos All Stars na areia, ficamos parados lado a lado, em silêncio, enquanto Tiago parecia escolher as palavras para conversar comigo. Aquela situação estava incômoda e eu precisava acabar com aquilo.
– Fala logo o que você queria falar, Tiago. Já tem gente chegando e quero voltar lá para dentro. – O apressei.
Ele tomou fôlego, ameaçou começar a falar e parou. Ele parecia muito nervoso. Quando finalmente falou, sua voz saiu baixa e rápida.
– Eu queria pedir desculpas pelo que eu disse. – Tiago falou tão baixo que quase não ouvi.
– O quê? – Perguntei ainda sem ter certeza do que tinha ouvido. A minha raiva retornando com força total. – Você está pedindo desculpas pelo o quê? Por se meter na minha vida ou por me chamar de vadiazinha?
– Vagabundinha... – Ele falou ainda mais baixo que antes. Não passava de um sussurro.
– O que você disse? Você está me chamando... – Não consegui terminar de falar. Minha raiva tinha acabado de passar para o estágio “Fúria Homicida”.
– Não, Anne, espere... Não estou te chamando de nada. – Ele apressou-se em dizer – Estou apenas te corrigindo. Aquele dia eu te chamei de vagabundinha e não de vadiazinha. – Ele explicou, mas ao mesmo tempo, parecia estar envergonhado por ter feito isso.
– E isso tem alguma diferença? – Eu estava começando a gritar com ele – Faz diferença se sou uma jovem vagabunda ou vadia? Ambas são descartáveis e não dignas de conviver com o principezinho, filhinho da mamãe e conquistador barato nas horas vagas, o senhor Tiago Rebello. Hein, Tiago? Me responda. Faz alguma diferença? – Explodi em cima dele, o tempo todo cuspindo as palavras em seu rosto, com um dedo espetando seu peito e os olhos cravados em seus olhos verdes. Vi arrependimento e vergonha passando pelo seu rosto e senti que eu estava à beira das lágrimas. Precisava acabar com aquela discussão de uma vez.
– Me perdoa, Anne. – Ele disse, ainda com a voz baixa, mas agora eu sentia que ele estava realmente sofrendo por isso. Quando uma única lágrima caiu em meu rosto, ele se apressou em enxugá-la com seu polegar. – Aquele dia estava sendo muito ruim e não ajudou nada saber que você estava ficando com Emerson. Acabei descontando tudo em cima de você. – Havia sinceridade nas palavras dele. – Vamos acabar com essa briga. Estou sentindo sua falta. Essas últimas duas semanas foram horríveis sem você por perto.
Foi quando caiu mais uma lágrima de meus olhos, e ele a secou, que percebi que sua mão estava acariciando meu rosto. Saber que ele também sentia minha falta era maravilhoso, mas sentir os dedos dele fazendo carinho no meu rosto era uma sensação diferente. Uma sensação quente e aconchegante.
– Eu também senti sua falta. – Me ouvi respondendo enquanto fechava os olhos para aproveitar mais o carinho dele. Senti seu corpo se aproximar do meu ao ponto de ficarmos colados um no outro. Quando abri os olhos novamente, a primeira coisa que vi foram duas íris de um verde intenso e depois baixei meu olhar até sua boca que estava a centímetros da minha. Senti um calor me inundar e a boca secar de repente.
“Ele é tão lindo... mas, é meu melhor amigo!”
Foi pensando nisso que me afastei dele, dando um passo para trás. Senti a perda do contato com o corpo dele, mas o que me deixou desnorteada foi o olhar triste de Tiago quando isso aconteceu.
– Não sei se vou conseguir te perdoar tão fácil assim. – Eu disse a ele, tentando voltar ao assunto inicial. – Você me magoou muito. Além disso, você comprou um presente para a Amanda e nunca comprou nada para mim.
“Tudo bem, eu confesso, morri de ciúmes do presente dela.”
– Jura que você ficou com ciúmes do presente que dei pra ela? Mesmo que eu sempre tenha dado a você tudo o que eu...
– Aí estão vocês dois. – Amanda chegou interrompendo nossa conversa. – Venham me ajudar com as coisas lá dentro. Tem um monte de gente chegando.
Só tive tempo de secar meu rosto, limpar meu lápis de olho que estava borrado, colocar um sorriso no rosto e seguir Amanda pelo caminho em direção ao interior da casa.
Cerca de duas horas depois a casa estava lotada. Tinha muita gente, tanto na parte de dentro da casa, quanto no lado de fora. Gente demais para o meu gosto e mesmo assim eu estava me sentindo sozinha.
Minha melhor amiga estava ficando ou ia ficar com o meu melhor amigo. Metade da festa estava bêbada ou estava bebendo para ficar bêbada e eu estava começando a ficar com dor de cabeça.
Para piorar, fui dar uma volta na praia e encontrei o Emerson se agarrando com outra menina. Como nós estávamos apenas ficando e nem era aquilo tudo, resolvi deixá-los aproveitar a noite logo após me fazer ser notada por eles e poder ver o olhar de medo nos olhos de Emerson.
“Ele achou mesmo que eu fosse fazer uma cena por ele? Ha...Ha...Ha!!!”
Dei-lhes um tchauzinho e voltei para dentro da casa. No caminho encontrei alguns conhecidos, parei para conversar com alguns, mas minha cabeça estava realmente doendo. Resolvi que já era hora de abandonar a festa.
Fui até a cozinha atrás de dona Amélia e de um comprimido para dor, mas não encontrei nenhum dos dois. O que encontrei foi Amanda e Tiago. Ele estava encostado na pia falando algo pra Amanda, que estava de frente para ele. Sem perceber que eu havia entrado na cozinha, vi quando Amanda o mandou parar de falar nela e que a beijasse logo. No momento que eles começaram a se beijar, eu derrubei o copo com refrigerante que estava na minha mão, pedi desculpas e sai correndo aos prantos e batendo a porta com força após passar por ela.
Eu não sabia para onde ir, por isso corri em direção às escadas que davam para os quartos. Subi correndo e ouvi alguém me chamar, mas não me importei. Continuei subindo e chegando ao corredor, fui direto para o quarto de hóspedes onde eu havia deixado minha mochila.
Para mim, a festa havia acabado.
Quarenta minutos depois, dos quais pelo menos trinta gastei em um bom banho, com direito a chorar todas as lágrimas sem sentido que eu tinha para chorar, escovei os dentes, penteei o cabelo, vesti meu pijama do Piu-Piu e Frajola e sai do banheiro, indo em direção à cama.
O quarto estava com a luz apagada, quando apaguei também a luz do banheiro, o quarto foi engolido pelo breu. Eu só conseguia ver parte da cama, devido à luz da rua que se infiltrava pelo canto da janela que não estava atrás da cortina.
Os sons da festa não eram tão discretos quanto a claridade da rua. A música, apesar de abafada, enchia o quarto e não ajudava em nada a dormir, mas mesmo assim me enfiei na cama.
– Por que você estava chorando? – Perguntou uma voz que vinha de algum lugar próximo a porta.
Cobri minha boca com as mãos para conter o grito de susto porque, por mais que eu não precisasse enxergar para reconhecer a voz que eu conhecia de minha vida inteira, eu não o esperava.
– O que você está fazendo aqui, Tiago? Ainda mais me dando um susto desses! Não deveria estar nos braços da aniversariante? – Não pude evitar a pergunta.
– Por favor, Anne. Só me responda. Porque você estava chorando?
– Eu não... – Tentei mentir, mas ele me conhecia bem o suficiente para não se deixar enganar.
– Não minta, Anne. Dava para ouvir seu choro daqui, mesmo com todo o barulho da festa e do chuveiro. Eu só preciso saber o porquê.
Como explicar uma coisa que nem eu mesma conseguia entender?
Enquanto eu me sentei na cama e encolhi os joelhos até conseguir apoiar meu queixo neles, como eu fazia quando era pequena e estava triste, Tiago caminhou até minha cama e sentou-se na beirada, ao meu lado. Aquele facho de luz que iluminava a cama pegou em cheio o rosto dele. Ele estava tão sério... Sério e lindo.
Várias lágrimas rolaram pelos meus olhos antes que eu pudesse responder com a voz embargada.
– Eu não sei. A única coisa de que tenho certeza é que a minha noite está péssima. Vi o Emerson com outra garota e quando voltei pra cá, me sentindo mais sozinha que nunca, eu vi você e a Amanda, juntos... – Não consegui terminar de falar e voltei a chorar.
Tiago puxou a coberta e se enfiou na cama ao meu lado, me abraçando. Coloquei minha cabeça na curva de seu ombro e continuei a chorar. Senti suas mãos afagarem meu rosto e ele sussurrar que estava tudo bem, até que consegui parar de chorar.
Quando parei de chorar, ele voltou a falar.
– Você viu o beijo, mas você não ouviu o que eu falei para a Amanda, né?!
Não respondi, apenas balancei a cabeça.
– Na hora que ouvi você pedir desculpa e sair correndo, percebi que cometi um erro enorme beijando a Amanda. Era um erro com ela, porque eu iria acabar magoando-a e iria magoar a garota que amo. – Meu coração parou. Tiago estava me contando que amava alguém? Porque ele me contaria isso? E porque eu estava sentindo que minha tristeza estava dobrando de tamanho?
– Quando a porta bateu, minha ficha caiu. – Continuou ele. – Eu interrompi o beijo, me desculpei com ela e expliquei que estava apaixonado e não poderia ficar com ela. É claro que ela ficou chateada, mas disse que já tinha percebido que eu sentia algo diferente por você, já que não falei de outra pessoa a noite toda.
– Espera, Tiago, o que eu tenho a ver com tudo isso? – Perguntei sem entender onde eu e minha interrupção entrávamos na história.
– Tudo bem que você sempre foi devagar de raciocínio, mas hoje você está se superando. – Brincou ele, virando-se para mim e erguendo meu rosto para que o encarasse. – Jura que você nunca percebeu? Em todos esses anos, você nunca notou que eu gosto de você? Que estou apaixonado por você desde os tempos em que usávamos fraldas e, se duvidar, antes disso?
Fiquei sem ação, paralisada, estática.
“Ele está dizendo que é apaixonado por mim? É isso mesmo ou eu não sequei direito a orelha e estou ouvindo coisas?”
– Você não vai dizer nada, Anne? Eu disse que estou apaixonado por você, que eu te amo e acho que sempre amei! Diz alguma coisa, por favor. – Ele parecia apavorado e eu estava tão confusa que não sabia o que responder.
– Ti, eu realmente não sei o que te dizer. – Na hora que parei de falar, senti que ele ficou tenso e começou a se afastar.
– Tudo bem, não tem problema. – Ele disse, enquanto começava a se levantar da cama. – Eu nunca esperei que você correspondesse aos meus sentimentos.
Eu o conhecia tanto quanto ele me conhecia e pude perceber que, além dele estar mentindo, estava magoado. Eu não podia vê-lo, mas sabia que a última coisa que eu queria era que ele se afastasse de mim agora.
Foi com esse pensamento que segurei sua mão e evitei que ele saísse da cama.
– Ti, eu não sei o que dizer porque até cinco minutos atrás você era apenas o meu melhor amigo, depois de te ver beijar outra garota eu sofri, mesmo sabendo que você já beijou muitas garotas, mas ver você com a Amanda me fez mal e agora você está aqui se de declarando pra mim. É muita coisa de uma vez. Estou muito confusa.
Senti que ele relaxou um pouco, aproveitei para puxar suas mãos e fazê-lo voltar para onde ele estava. Quando ele se ajeitou ao meu lado, senti uma vontade enorme de me abraçar a ele e foi o que fiz. No primeiro momento ele meio que se assustou, mas depois relaxou e passou a acariciar meus cabelos, ombros e braços.
– Posso te fazer uma pergunta? – Eu disse, após alguns momentos de silêncio.
– Claro. Quantas você quiser.
– Por que agora? Por que me contar agora? Por que não me contou antes?
Na mesma hora ele enrijeceu os ombros e pareceu desconfortável. Ele levou mais tempo que imaginei para responder e quando respondeu, eu queria que ele não o tivesse feito.
– Eu vou me mudar. – Ele disse em voz baixa. – Vou embora da cidade.
– Como? – Eu me virei imediatamente para tentar olhá-lo. Eu não quis acreditar.
– Anne, no dia que te encontrei e que brigamos, meus pais estavam tendo uma briga horrível e falaram em se separar. Sai de casa para não presenciar a briga. Quando escureceu e eu resolvi voltar para casa, eles haviam conversado e resolveram que iriam ficar juntos, mas que iriam embora de Floripa o quanto antes. – Ele suspirou e pareceu buscar coragem para continuar. – Nós estamos nos mudando para Portugal em dois dias.
Todo ar que estava em meus pulmões, me abandonou.
– Não... Isso não pode ser verdade. Você não pode me abandonar, não agora... – Eu já estava começando a me desesperar. Não podia perdê-lo, não naquele momento. – Deve haver um jeito, não sei. Você pode ficar lá em casa. A gente dá um jeito, mas você não pode ir.
– Anne, eu já tentei conversar com meus pais. – Ele parecia tão cansado, mesmo enquanto acariciava meus cabelos eu podia sentir seu sofrimento se misturando com o meu. – Eu sou menor de idade, não posso ficar a menos que meus pais autorizem e eles não vão fazer isso. Já tentei conversar com eles um milhão de vezes nestas últimas duas semanas.
Senti todo o meu corpo doer e minhas lágrimas voltarem a cair. Apertei ainda mais meu braço nele. Eu iria perdê-lo para sempre. Meu coração estava doendo.
– No dia que brigamos, não foi apenas uma briga. Eu queria brigar com você. Queria que você ficasse com tanta raiva de mim que não iria mais querer me ver na sua frente, assim seria mais fácil para você me ver partindo. Só que eu sou um fraco e não aguentei ficar longe de você. Aquelas duas semanas em que ficamos separados, me fizeram ter ainda mais certeza que te amo porque eu sofri mais que animal de circo. Eu ficava te vendo de longe e então hoje à noite eu não aguentei ficar tão perto de você e resolvi que precisava te contar tudo. Eu ia te contar na praia, mas a Amanda apareceu...
Ele não precisou explicar mais, eu já havia entendido tudo. Eu o estava perdendo. Dentro de dois dias, eu perderia o meu melhor amigo, o garoto que me amava e que, de uma forma diferente, eu também amava.
– Ti, eu não sei se te amo da mesma forma que você diz que me ama, mas sei que o que sinto não é só amizade. Hoje quando eu vi você beijar a Amanda, eu senti uma tristeza tão grande, e mais cedo lá em casa, eu tive tanto ciúme de vocês dois que eu tentei me convencer que era por causa do presente que você comprou para ela, mas não era só por isso. Era por sua causa. Por você ter ligado para ela enquanto fazia dias que não falava comigo. Além do fato de você estar dando atenção e sorrisinhos para outra garota, enquanto nem se dignava a falar comigo.
– Anne, é horrível o que vou te dizer, mas eu usei a Amanda. A usei para saber como você estava. Eu só sabia falar sobre você quando estava com ela. – Ele parecia tão envergonhado.
A felicidade me invadiu ao ouvir isso. Virei meu rosto para encará-lo e, enquanto eu sorria, ele parecia surpreso com minha reação. Tanto que surgiu uma ruga de preocupação entre suas sobrancelhas. Instintivamente levei meus dedos até sua testa e a acariciei, até que a ruga sumisse.
– Obrigada. – Eu disse a ele. – Obrigada por me contar a verdade.
Com minha mão em sua bochecha, olhei seu rosto quase invisível pela escuridão. Eu não precisava de claridade para saber que ele era lindo. Que seus olhos verdes eram límpidos e me lembravam brincos de esmeralda, seu rosto era salpicado de sardas e sua boca era uma imitação dos lábios dos deuses, bem desenhada e generosa em carne. Não resisti. Acariciei seu rosto e o puxei para que nossos lábios se encontrassem.
Quando finalmente senti o leve roçar da boca dele na minha, algo em mim gritou de felicidade. Era isso que eu sempre quis e não teria muito tempo para aproveitar antes de ele ir embora da minha vida.
Quando nossos lábios finalmente se colaram, fiquei um pouco acanhada, mas apenas por alguns instantes, até que ele abriu minha boca com sua língua e eu me entreguei ao beijo de corpo e alma. Conforme nos beijávamos, fui sentindo que se tornava mais intenso a cada instante e nossos corpos foram se ajustando um ao outro. Em determinado momento eu segurei a jaqueta dele e o puxei para cima de mim. Ele aproveitou a posição em que estávamos e começou a acariciar as curvas do meu corpo e tornar o beijo ainda mais quente. Eu nunca havia sentido nada igual.
Quando nos separamos para que pudéssemos respirar, ambos estávamos ofegantes. Eu continuava sentindo o calor no meu corpo e sentia o corpo do Tiago colado ao meu. Eu podia sentir todas as partes do corpo dele. E havia algumas partes que eu nunca pensei que iria sentir desta forma, mas até mesmo isso estava colaborando para aumentar a temperatura interna do meu corpo.
– Uau! – Eu tentei resumir o que estava sentindo e pensando quando nossos lábios se separaram para que pudéssemos respirar.
– É, “uau!” descreve bem. – Disse ele brincando – Se eu soubesse que iria ser tão bom, teria te beijado antes. – Entre uma palavra e outra, ele dava beijinhos no meu rosto.
– Realmente você não é nada mal quando o assunto é beijo. – Brinquei com ele e aproveitei para bagunçar seu cabelo. – Ti, você não acha isso estranho? Eu te conheço há tanto tempo e agora estamos aqui, só nós dois, nos beijando...
Não sei dizer se ele gostou ou não do meu comentário, mas ele pareceu pensar muito antes de responder.
– Anne, eu tenho certeza dos meus sentimentos já faz algum tempo, desde quando você me contou que beijou pela primeira vez e eu fiquei desejando duas coisas: quebrar a cara do idiota e que você tivesse tido essa sua primeira vez comigo. Sempre morri de ciúmes dos garotos com quem você ficou, mas como eu poderia correr o risco de perder sua amizade? É melhor ser seu amigo do que não ser nada para você.
Depois de ouvir isso, eu tive certeza que mesmo se eu não gostasse dele de maneira nenhuma, agora ele teria me ganhado. Eu não podia dizer que o amava como ele me disse, mas havia algo que eu poderia dizer para ele ter uma ideia dos meus sentimentos.
– Eu sempre me senti da mesma forma, mas não consigo dizer as palavras que você quer ouvir. Sempre soube o cara lindo e maravilhoso que eu tinha ao meu lado há vários anos. Sinto muito se eu não te dei a chance de ser o primeiro cara que beijei, mas... – Parei de falar quando a ideia surgiu. Seria uma loucura, mas, ao mesmo tempo, parecia tão certo. Com quem eu iria fazer isso, senão com o garoto em quem mais confiei em toda a minha vida? O meu melhor amigo, de quem eu gostava tanto e que me amava?
– Ti, existe uma coisa que eu gostaria que você fosse o primeiro. – Tentei soar decidida, mas eu estava com medo dele me rejeitar. – Além de todos os sentimentos que temos um pelo outro, nós vamos nos separar dentro de alguns dias, então quero aproveitar o tempo que tenho com você. Tiago, quero que você seja o meu primeiro. Quero que durma comigo.
Ele ficou tenso e imóvel.
– Anne, você está falando sério? Você gosta de mim ao ponto de fazer isso? De perder sua virgindade comigo?
– Não consigo pensar em outra pessoa. A pessoa certa pra mim. Quem melhor que você? – Ele começou a balançar a cabeça negativamente e eu percebi que ele poderia não me desejar daquela forma. A vergonha me pegou em cheio.
– Tiago, deixa pra lá. Você não quer, não tem problema. Eu entendo, foi uma ideia estúpida. – Comecei a falar rápido, na intenção de mudar de assunto e diminuir minha vergonha de ter me oferecido a ele.
– Nem pense nisso, Anne. Eu adoraria transar com você. Seria a realização de um sonho, mas não vou fazer nada com você apenas por você achar que me deve alguma coisa ou por que vou embora. Quero que você tenha certeza do que quer. Não apenas um favor e sim uma opção racional e que você tenha certeza que não vai se arrepender depois.
Ele estava sendo tão racional que não percebia que eu estava louca de desejo por ele. Quando ele terminou de falar, eu o puxei para que me beijasse. Só após alguns instantes o soltei e voltei a falar.
– Depois do que você acabou de me dizer, só reforçou minha convicção. A primeira vez para uma garota é uma coisa importante demais para ela ser feita apenas como um favor ou qualquer coisa do tipo. – Tentei explicar – Eu quero que você seja o primeiro, não por pena ou por um favor, mas sim porque você é o cara certo. Eu sinto isso. Além disso, eu sei que você jamais faria nada para me magoar. Esse momento será o que me manterá firme, esperando o dia em que você vai voltar pra mim. Porque você vai dar um jeito de voltar, né?!
– Na primeira oportunidade que eu tiver, pego um avião e volto para você. Mas quanto a tua virgindade, preciso te contar uma coisa... – Ele baixou o rosto, quase o escondendo de mim.
– Diga. – Eu o encorajei.
– Eu... Er... humm... Eu também nunca fiz... – Ele estava tão envergonhado que disse isso enquanto colocava o rosto na curva do meu pescoço. O que me causou um arrepio imediatamente.
– Melhor ainda, vamos descobrir juntos, então. Será a primeira vez para nós dois e espero que não seja a última. – Eu disse quando puxei seu rosto em direção ao meu para que nossos lábios se colassem e nossas línguas pudessem dançar juntas, no melhor beijo que eu havia provado até então.
Foi quase automático, assim que nossos lábios se encontraram, nossas mãos ganharam vida própria e passaram a passear pelo corpo um do outro. Quanto mais profundo e urgente o beijo se tornava, menos poder de raciocinar nós tínhamos. Até que só restou o desejo que aquele momento durasse para sempre.
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