Bom dia,
Toda semana iremos apresentar aqui um autor e um livro, e publicaremos o 1º Capítulo.
Mônica Pimentel
Mônica Pimentel, tem 38 anos é professora e escritora, mora em Carangola/MG.
O que te motivou a escrever: minha motivação para a escrita surgiu pelo fascínio que tenho pelas palavras e o que elas podem produzir em nós. Além do prazer de contar histórias.
Como começou a escrever: ainda pequena, comecei a escrever poesias relacionadas a diversos temas e continuei a escrever ao longo da adolescência, com o hábito de registrar sentimentos, inventar histórias, desvendar o outro através das palavras.
O que ti motivou a escrever o primeiro livro: meu primeiro livro faz uma homenagem ao meu estado, Minas Gerais, e foi motivado por uma paixão que me domina: a música mineira, especificamente o movimento Clube da Esquina e também as paisagens mineiras, particularmente uma trilha que fiz com meus amigos “O Caminho da Luz”, um local por onde o Trem passou um dia.
Seus livros preferidos: sou bastante eclética, gosto de todos da Série Vaga-Lume; Grande Sertão: veredas (Guimarães Rosa); O Grande Mentecapto (Fernando Sabino); A Hora da Estrela (Clarice Lispector); A Tempestade (William Shakespeare); O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry); O Menino do Dedo Verde (Maurice Druon); Dom Casmurro (Machado de Assis) e muitos outros.
Seus autores preferidos: Guimarães Rosa, Fernando Sabino, Willian Shakespeare, Machado de Assis, Clarice Lispector, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Jane Austen
Sobre as Cinzas
Sinopse: Alice e Helena eram grandes amigas. Por ironia do destino, se apaixonaram pelo mesmo homem, Lui. Até quando uma amizade é capaz de resistir quando o assunto é o homem amado? Mas a vida oferece surpresas agradáveis ou não, e subitamente o casal que se forma a partir da escolha de Lui, morre em um acidente. Quem cuidará da pequena Sophia, filha do casal? Qual das duas amigas foi escolhida por Lui e se tornou sua esposa? Alice ou Helena? Que trágico acidente mudou a história dessas vidas? Um juramento pode ser levado a sério, mesmo diante de uma amizade turbulenta?
Degustação
Capítulo 1
Alice não teve dúvidas ao ver aquela menina de olhos verdes e cabelos loiros. Estava diante de Sophia, filha da melhor amiga que, um dia, passou por sua vida. Amizades se parecem com as chuvas de verão, são repentinas, necessárias e algumas, com ares de temporais, são capazes de deixar vestígios de sua passagem. Foram as melhores, enquanto foram amizades. Ponto final.
Alice nunca esqueceu aquele olhar feito de manhãs felizes ao lado dos pais e o sorriso travesso da menina que, tão pequena, já provava da experiência de ser desejada. Naquele lugar cinza, era uma criança de aparência triste e solitária.
Após percorrer muitos abrigos da região, Alice conseguiu enfim encontrá-la, ela que, todas as noites, ocupava seu pensamento.
Uma senhora, grisalha e simpática, imagem e semelhança das avós de todas as pessoas, recebeu Alice no portão. Conversaram sobre o motivo pelo qual ela estava ali: resgatar a menina que havia sido a única sobrevivente em um acidente na viagem de férias da família. O corpo da criança nunca foi encontrado, e essa falha nas investigações moveram os dias de Alice.
Depois de uma longa conversa, a resolução foi de que Alice deveria procurar a assistente social da instituição para tratar dos tramites legais e, assim, poder visitar regularmente a criança, embora quisesse, realmente, tentar a adoção. Soube, pela tal senhora, que um casal também estava interessado em adotar Sophia, e isso a encheu de todos os temores.
Naquela tarde, Alice carregava um fardo alheio, ora leve, ora pesado, uma linha tênue que separava a razão da emoção. Até onde uma amizade frustrada deveria torturar seus pensamentos e mudar planos que estavam quase sendo
executados. Mais uma vez, anularia seus planos em função de Helena?
Anular. Anular-se. É isso que, constantemente, fazemos em nossos relacionamentos, quando, na verdade, é o original que nos diferencia da multidão.
Se permanecesse naquela cidade desconhecida, seguindo os impulsos da emoção que a dominava havia dias, perderia o futuro casamento e a chance de construir uma família ao lado do homem que amava, ou tentava amar, e que por tanto tempo esperou. Mas a vida não é feita apenas de retas nem é uma
estrada bem sinalizada que nos leva sem erros ao destino final. Não. A vida não é uma obra Shakesperiana, cujo enredo caminha para o desfecho perfeito, seja ele trágico ou cômico. A vida é bem mais machadiana, com sua ironia e realismo, deixando no ar a dúvida do que poderia ter sido, do que é ou do que será. A eterna dúvida em Dom Casmurro.
Como se casar, engravidar e, todos os dias, cuidar dos filhos, dando-lhes amor, atenção, sabendo que, talvez, Sophia ainda estivesse em algum abrigo ou vivendo em um lar áspero, como se fosse uma mercadoria e não uma vida que precisaria de cura, de afeto, de uma nova história. Alice sabia que, para muitas famílias, a adoção pode ser uma fuga, e não um ato de amor.
Chegou ao flat alugado, tirou os sapatos e resolveu caminhar na praia, algo que sempre gostou de fazer, embora o mar estivesse distante, escondido sob o verde das montanhas e encontrado somente nos verões dos muitos janeiros em que foi feliz ao lado dos amigos.
Poucas pessoas observavam os últimos raios de sol naquela tarde linda e nostálgica. A calmaria do ambiente foi o convite perfeito para que Alice permanecesse por horas na praia, molhando os pés, sujando-os outra vez na areia, rendendo-se à brisa e ao cheiro da maresia. Bem ao longe, como se fosse o sussurrar de Deus, respondendo a alguma prece angustiada, ela ouviu uma canção antiga que abriu seu diário interior, quando as duas amigas sonhavam os mesmos quereres.
Ouviu cada frase envolta na melodia mais bela que já passou por sua história. Bebia cada palavra que era a verdade de sua alma: por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim, doce ou atroz, manso ou feroz, eu caçador de mim...
Alice sempre foi metade razão, metade emoção. Uma loucura dosada, homeopaticamente aplicada e sem contra indicações. Sentia e vivia intensamente cada uma de suas histórias, suas pequenas histórias. Todos nós temos pequenas histórias que compõem nossa vida. E essa pequenez é um quebra-cabeças que nos define como gente. Alice oferecia a todas as suas pequenas narrativas a mesma intensidade e julgava ser preciso viver bem todas as situações: das conversas amenas sobre viagens, comidas, poemas, livros de Guimarães Rosa e Fernando Sabino (seus autores prediletos) à miséria no Haiti. Por isso, a canção refletia tão bem o interior daquela mulher, prestes a tomar uma decisão que mudaria o curso de sua história: longe se vai, sonhando demais, mas aonde se chega assim... Era só uma canção, a areia, a água, a brisa e o pôr do sol... Bem perto, a grande razão de tudo aquilo: adotar Sophia.
Como essa obrigação nasceu na alma de Alice? Da mesma maneira como nascem todas as promessas que, muitas vezes, permeiam a consciência de quem as faz. Nos momentos de alegria, de lágrimas, de juramentos que querem ser eternos. Isso, porque gostamos das juras, de promessas que sustentem
nosso fardo de viver, feito um Cirineu construído de palavras. Esquecemos que promessas são palavras lançadas e, assim como as sementes, elas correm o risco de produzir seus frutos.
Negar a existência da menina era como fechar os olhos para não ver o mar quando se está diante dele pela primeira vez. Alice voltou para o flat, molhou o corpo e quis abrir seu baú de memórias para dele retirar a razão de estar naquele lugar.
Decidir é uma espécie de abismo à beira de um incêndio. O que é melhor? Como agir? Que escolhas serão as mais assertivas? Lembrou-se de como aquela amizade deu os primeiros passos em direção ao que hoje era o culminar de uma história permeada por erros e acertos, rancores e perdão.
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