Bárbara
Nossa, o almoço com Thor foi maravilhoso! É tão bom vê-lo apaixonadíssimo. Quando cheguei ao restaurante, ele estava sentado me esperando, e ao seu lado havia uma bela moça.
- Bom dia Thor! Como vai?
- Querida Bárbara, estou ÓTIMO, melhor impossível. E você?
- Estou bem. Apresente-me à esta bela moça ao seu lado.
- Babby, está é a minha noiva, Isabela.
- Nossa, que maravilha! Você noivo? Fico feliz por vocês!
- Só peço-te desculpas; sabia que seria um almoço de negócios, porém não resisti e trouxe minha amada. Simplesmente não aguento ficar longe dela.
Nós três rimos ao mesmo tempo. É muito engraçado vê-lo tão apaixonado – pensei que não viveria para ver este dia.
O almoço de negócio transformou-se em uma reunião de amigos, totalmente descontraídos. Fiquei impressionada com Isabela, pois além de linda, é muito meiga, reservada e gentil. Foi realmente ótimo conhecer a mulher que conquistou o coração do selvagem Thor. Com sua docilidade, ela amansou a fera. Quem diria não? E eu aqui, vivinha da Silva presenciando este dia. Tenho que contar para a Patty...
- Então, nos vemos depois. E Thor; pode ficar tranquilo, pois resolverei todas estas questões pendentes de sua empresa.
- Não espero menos de você Babby. Ah, assim que marcar com o seu noivo, avise-me para marcarmos um encontro de casais.
Droga! Acabei não contanto sobre meu rompimento com o Caio - Não achei propício tocar neste tipo de assunto tão pessoal em um almoço de negócios.
Saio do restaurante, ligo meu celular e vejo que tenho diversas ligações do escritório. Antes mesmo de retornar, aparece no visor do aparelho uma nova chamada. Atendo e duas loucas desvairadas começam a falar desenfreadamente.
- Bárbara, a culpa não foi minha! - Essa é a Marcinha falando.
- Bárbara a culpa é dela sim. - Essa é a Paty.
Elas gritam tanto no telefone falando ao mesmo tempo, que não consigo entender absolutamente nada. Estou tão feliz por correr tudo bem no meu almoço de negócios. Minha vida pessoal não poderia estar melhor, que juro não estressar-me sobre o que quer que essas duas tenham a dizer-me e de quem é a culpa pelo quê não faço a menor ideia. Tomo esta decisão em meio ao barulho que as duas gralhas fazem, e ainda estou perdida em meus pensamentos quando ouço uma delas falar a palavra mágica: Marco.
-Helloooooooooooooooo, parem de gritar agora! Seja lá o quê tenham a me dizer, que comece uma por vez. Prometo ouvir as duas, mas, por favor, o que o Marco tem haver com essa gritaria toda? - Não retornaria ao escritório à tarde, pois me programei para tirar o dia para que resolver algumas coisas pessoais. No entanto, diante dessa confusão, preciso voltar o mais rápido possível. – Silencio as meninas dizendo que me esperassem, pois já estava chegando. Quando chego ao escritório, a Marcinha está pálida. Será que estava passando mal?
- Marcinha, o que foi? – Pergunto preocupada.
- Bárbara, nem sei por onde começar... – Me diz ansiosa e totalmente nervosa.
Do nada, ouço a voz de Patty pedindo desculpas. Falava tão rápido que atropelava as palavras.
- Babby, eu juro que não sabia que ele estava aqui! Começa a falar nervosa. - Entrei tão eufórica que não percebi que ele estava na recepção. Amiga, eu não fiz por mal! Perdoe-me? Por favor!!! - Não entendia até o momento o porquê das desculpas.
- Foi sim, a sua culpa. - Ataca Marcinha.
- Vocês duas se acalmem! Respirem fundo e me contem qual é a catástrofe?
As duas começam a falar ao mesmo tempo e por isso não entendo nada! Falam tudo embolado; uma coloca a culpa na outra, a outra acusa de sonsa, que rebate que a outra é boca grande e no fim só ouvi ofensas.
- Mulheres, acalmem-se! O quê tem o Marco? O que você fez? Não entendo absolutamente nada. E Patty, vamos para a minha sala. - Não quero abrir espaço para que todos ouçam o seu desespero.
Caminho a passos largos em direção a minha sala com minha melhor amiga no meu encalço. De morena a Patty passou para branca feito neve. Estou ficando preocupada, pois ela nunca se desespera. - Não há para onde fugir, então peço que comece a explicação sobre toda essa loucura.
- Pronto Patty, desembucha! O quê aconteceu? Já estou aflita e pela sua cara, ou alguém morreu ou você matou alguém. Por favor, comece do início e não atropele as coisas, pois quero entender o teor da confusão. – Dou um tempo para que respire fundo e peço que refaça a ordem cronológica dos acontecimentos. – Preciso entender em que momento começou essa bagunça.
- Tudo bem. Então, fui almoçar e quando voltei já entrei na recepção perguntando por você. Sabe como sou né? – Balanço a cabeça em concordância e faço um gesto pedindo que continue a falar.
– Reclamei brincando que você não me levou para almoçar com você logo hoje que estaria acompanhada pelo Thor, aquela delícia de homem! Sonhava com aquele exemplar de macho, aqueles olhos verdes e me contentaria somente em admirá-lo.
Interrompo-a para contar o babado sobre o Thor. - Ah, antes que eu me esqueça, ele está noivo e no almoço você ficaria super chateada, pois ele a levou para apresentar-me. Isabela é seu nome e por sinal amiga, ela é linda e super simpática. Enfim, continue a sua história.
- Jura??? Não acredito! E eu que tinha minhas esperanças de agarrar aquele homem. Ainda bem que não fui. Noivo ou não, ele continuará povoando meus sonhos de calcinha molhada... – Olho para a Patty sorrindo. Ela não tem jeito mesmo...
- Foco Patty... – Tenho que lembrá-la do motivo da conversa.
– Ai, desculpe a viagem. Deixe-me continuar. Onde é que estava mesmo? Ah, lembrei. Então, quando terminei de falar isso, a Marcinha me repreendeu e só então me avisou que não estávamos sozinhas na recepção. Quando me virei para ver a terceira pessoa do ambiente, eu quase morro.- Amiga, me desculpa... O Marco estava aqui te esperando! Ele ouviu a minha conversa e pensou que você tinha ido almoçar com o Thor, mas que era um encontro amoroso e não um almoço de negócios.
Neste momento dou um pulo da cadeira. - Puta merda, Patty! O Marco estava aqui? E ouviu a sua perversão sobre o Thor? - Meu coração fica apertado. Não entendo o porquê de minha preocupação, mas já percebi que ele é ciumento. Depois desta acho que não tenho mais um futuro namorado. – Penso com tristeza.
- Amiga, Eu tentei explicar. Falei que era um almoço de negócios, mas ele não quis nem me olhar. Saiu daqui raivoso e soltando espuma pela boca... - Ai Babby, que fora que dei. - A cara de desespero da Patty não nega o quanto ela está preocupada com a sua boca grande.
- Patty, relaxa. Se ele confia em mim, vai acreditar na verdade; que nada passou de negócios. Fique tranquila, pois no fundo ninguém teve culpa. Agora me deixe sozinha, pois vou pensar no que devo fazer agora.
- Amiga, me desculpa? - Apenas aceno com a cabeça e ela sai da sala toda triste. Não estou com raiva dela, nem poderia. Não passou de um "acidente". Agora só quero esfriar a cabeça antes de ter um ataque cardíaco fulminante; meu coração parece um tambor.
-O que faço agora? - Será que nosso primeiro encontro foi por água abaixo?
Olho no relógio e vejo que estou atrasada com o horário que tenho agendado no SPA. – Corro para meu compromisso de beleza. Se for para levar um fora, preciso estar linda, calma e com a pele lustrosa.
Estou na maca recebendo uma deliciosa massagem, mas por mais relaxante que esteja, minha cabeça dá piruetas e meu coração dispara a cada momento que relembro o que aquelas duas aprontaram. Não consigo entender o quê ele foi fazer no meu local de trabalho. Será que foi desmarcar o encontro pessoalmente?
Tento relaxar, mas nada acontece. Estou tensa e peço dois minutos para a esteticista. Ligo para o Marco - Quero saber o que ele foi fazer no escritório e dependendo da resposta, argumento sobre o ocorrido, caso contrário, deixo pra lá. Eu tenho o meu orgulho!
Primeiro toque.................. Quarto toque. – Ouço a mensagem gravada - Você ligou para Marco, não posso atender no momento. Se for urgente, deixe uma mensagem que entrarei em contato assim que possível. Vou deixar uma mensagem. Uma hora sei que ele ouvirá. Seja o que Deus quiser:
-Marco, boa tarde! Recebi um recado da minha secretária que esteve em meu escritório. Ligue-me assim que possível, por favor. Um beijo bem gostoso, no local que escolher. - Faço uma piadinha sexy, para descontrair o clima. Desligo com um sentimento de dever cumprido, seja lá o que for, ele com certeza vai retornar.
Depois de terminar a massagem, desço para o salão. Preciso me depilar e se tiver o encontro (dedinhos cruzados para que sim), quero estar lisinha feito um sabonete.
Oh dor da peste é a tal da depilação! Parece que a cada puxada minha pele vai junto. Só me lembro do conto da "depilação cavada".
Depois da dor excruciante, penso que olhando meu celular posso encontrar a paz e conforto que espero, mas nada! Nenhuma ligação, SMS, Whatsapp... Resumindo: nada de Marco. Aí minha Santinha da dor da periquita depilada, será que toda a dor e toda essa produção foi em vão?
Marco
Ando pelas ruas de São Paulo sem rumo; preciso me desabafar com alguém! E quem melhor do que meu amigo de fé, meu irmão camarada e parceiro de vida, o Pedro? Vou aproveitar e conhecer seu novo escritório. Com toda a correria que tem sido minha vida, não pude nem ir à inauguração.
No fórum não tenho nada agendado. Deixei várias instruções ao Marcelo e espero conseguir colocar todos os meus pensamentos em ordem. Esta semana aconteceram muitas coisas na minha vida pessoal e agora estou irritado, confuso, aéreo... Isso nunca aconteceu comigo. Jamais misturei pessoal com profissional. E agora estou tão enrolado que não me lembro onde estão minhas pontas.
Chego ao escritório do Pedro. Fico feliz pelo meu amigo, ele preocupou-se com todos os detalhes; entrada com rampa para cadeirantes, corrimão para auxílio de pessoas idosas, no interfone há teclas em braile... Uma das maiores virtudes do Pedro é o respeito que têm pelo próximo e pelas diferentes necessidades das pessoas. Desde que estudamos juntos, nunca admitiu bullying com nenhum dos nossos amigos. Defendia todo mundo, e assim foi admirado por muitos e odiado por outros. Sempre o respeitei e estive ao seu lado em todos estes momentos.
Pedro é tão gente boa e tranquilo, que até tutor de uma garota mimada tornou-se. Beatriz acabou ficando sozinha depois que seus pais sofreram um acidente, e ele como o único amigo do Valter e primo de terceiro grau de sua esposa, acabou sentindo-se responsável pela órfã. Por essas e outras que ele é meu amigo irmão e tenho certeza de que ele não viraria as costas para ninguém.
Quando sou atendido, me surpreendo com a funcionária que está na recepção. Pois bem, depois de tantas implicâncias e xingamentos, olha quem trabalha para o Pedro? A menina mimada, Beatriz, que se transformou em um mulherão de parar o trânsito.
- Marco! Que felicidade receber você em nosso escritório. - O Pedro não vai acreditar quando anunciar a ele quem está aqui. – Me diz com um sorriso no rosto.
- Beatriz, estou surpreso te vendo aqui. Como vai?
- Estou ótima. Pedro além de ter sido meu tutor e ajudado no momento mais difícil da minha vida, me deu esta chance de trabalhar em seu escritório. – Não me admira ouvir isto conhecendo o amigo que tenho.
- Que bom, fico feliz por você. Mas cadê o Pedro? Estou em falta com meu amigo.
Ela interfona para Pedro e fico observando-a falar no telefone. Confesso que isso foi estranho; a cada som que ela emite seu rosto vermelho. Ela desliga e me olha sem jeito.
- Marco me acompanhe, vou levá-lo até a sala dele. – Enquanto seguimos para a sala de meu amigo a observo melhor. Caramba, a Beatriz está gata! Cara, sou homem e percebo o quão bonita ela ficou.
Saio deste pensamento para admirar as telas de artistas que ele tem no corredor. Lembro de estar com ele quando comprou várias delas. Ele as adquiria de artistas com alguma deficiência, pois achava que seria por causas justas. Mas não era por pena; as obras eram realmente belíssimas e carregadas de emoções e significados. Até hoje como amigo, questiono-o sobre esse fascínio que tem por artistas com alguma deficiência.
Quando Beatriz abre a porta sinto um clima diferente entre os dois e prefiro, não comentar nada.
- Fala Marco! Que surpresa é esta?
- Pois é, estou em falta com você e além do mais, preciso desabafar! Será que atrapalho?
- Claro que não. Já terminei alguns projetos. Senta aí. Vou pedir para Bia trazer algo pra gente. - Bia? Lembro-me que antigamente ele a chamava de “pirralha”.
- Querida... Eh, quer dizer... Beatriz, por favor, peça para a dona Mirtes, que traga um café ao Marco e uma água com gás para mim. Obrigado.
- É impressão minha, ou está rolando algo aqui que eu não sei? - Indago.
Pedro arregala os olhos, surpreso por minha pergunta tão franca. - Rolando algo? Está doido Marcão? E dá um riso forçado, totalmente sem graça.
- Tudo bem, não irei questioná-lo. Quando sentir vontade de me contar, sabe que pode me procurar. - Enfim, mas vim aqui para desabafar, antes que eu fique louco.
- Espera aí! - Me deixa adivinhar, nem precisa falar: É Bárbara o nome da sua loucura? Porque sobre nossa princesa, você já ligou hoje dando boas notícias.
- Claro que é cara. Estou totalmente perdido; ela me deixa louco! Estou louco de ciúmes! Quero ficar com ela, que ela seja minha, mas o ciúme está apertando a minha mente, não sei o que fazer. Agora mesmo, fui fazer uma surpresa e quando chego ao escritório, fico sabendo que ela foi almoçar com um cara chamado Thor. De acordo a amiga, o cara é um deus grego. – Falo nervoso só em imaginá-la com ele.
- Marco, vá com calma. Rebobina a fita e me conta a novidade. Você e Bárbara estão juntos?
- Estamos? - Falo em um murmúrio. - Não sei mais nada! Até que a porta se abre e entra Beatriz com o meu café e água para o Pedro.
- Desculpa pela demora, mas a dona Mirtes teve que sair mais cedo e tive que atender algumas ligações.
- Que ligações? – Pedro pergunta com o cenho franzido.
- Pedro, depois falamos sobre isso. – E Beatriz saiu deixando-nos sozinhos. Vejo labaredas de fogo nos olhos do meu amigo. Aí tem!
Beatriz sai da sala e deixa um Pedro totalmente transtornado. Ele não quer demonstrar, mas eu sei que ele está incomodado com algo e tem relação com as tais ligações.
- Desculpa Marco. Continue, conte sobre a Bárbara.
Suspiro e penso em um problema por vez. Vou contar a minha angústia, mas quero escutar a dele também. Enfim, depois de contar detalhe por detalhe - menos as questões íntimas, pois não quero nenhum marmanjo pensando na minha mulher - Ele me diz entre gargalhadas:
- Amigo, se você está se mordendo por ela ter ido almoçar com um cliente e está nesta agonia toda, só tenho uma coisa a dizer: - Dr. Marco Ladeia, o Senhor está arriado com os quatro pneus e o estepe pela Srta. Bárbara. E você está apaixonado como nunca te vi antes.
Fico pensando no que meu amigo disse. Paixão? Será? Meu coração está acelerado só de falar. Diante da simples menção ao nome dela, tudo muda, meu pensamento viaja até minha Sereia e minha reação é outra. Estou enlouquecido por esta mulher!
Continuamos nossa conversa e depois de uma agradável tarde com o Pedro, entre bate papos e conselhos, ligo meu celular e lá está uma mensagem de voz. Ouço e no mesmo momento retorno a ligação. Até nas mensagens ela tem uma boca inteligente que adoro.
- Olá? - Ligo no impulso do momento.
- Olá. – Respondo - Estou retornando sua ligação, cheio de ideias sobre esse beijo que me prometeu...
-Uhumm, e eu te liguei, porque fiquei curiosa para saber o motivo da visitar de um lindo juiz, hoje na hora do almoço.
- Esse juiz teve uma manhã maravilhosa pensando numa certa contadora e decidiu convidá-la para almoçar, mas acho que ele chegou tarde.
- Poxa!!! - Que honra ser convidada para um almoço com o Senhor Juiz Gostoso. Se soubesse, largaria o maior cliente da minha empresa com certeza para desfrutar desse almoço.
Será mesmo que ouvi isso? Ela disse que largaria um almoço de negócios para almoçar comigo? Essa mulher não existe! Estou aqui achando mil coisas, com ciúme bobo e ela encarando isso com toda a naturalidade que a situação tem.
- Honrado fiquei eu agora com essa demonstração de carinho. Estou louco para te buscar para o nosso primeiro encontro. – Nem pareço o mesmo de horas atrás.
- Que horas você vem me buscar.
- Às 20:00 está bom pra você?
- Está ótimo.
Desligo o telefone ansioso, eufórico e cheio de expectativas. Já estou louco com saudades daquela boca perfeita, de sentir seu cheiro de morango, além de abraçá-la com força. Estou viciado nesta mulher! Minha Sereia. Minha!
¹ DEPILAÇÃO CAVADA
- "Tenta sim. Vai ficar lindo."
Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.
- "Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
- "Vai depilar o quê?"
- "Virilha."
- "Normal ou cavada?"
Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.
- "Cavada mesmo."
- "Amanhã, às... deixa eu ver...13h?"
- "Ok. Marcado."
Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique.
Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado.
Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de Calígula com O Albergue. Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso
cantinho: uma maca, cercada de cortinas.
- "Querida, pode deitar."
Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus , era O Albergue mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.
- "Quer bem cavada?"
- "...é ... é, isso."
Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.
- "Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.
- "Ah, sim, claro.
Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).
- "Pode abrir as pernas."
- "Assim?"
- "Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado."
- "Arreganhada, né?"
Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar. Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.
Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.
- "Tudo ótimo. E você?"
Ela riu de novo como quem pensa "que garota estranha". Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes.
O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.
- "Quer que tire dos lábios?"
- "Não, eu quero só virilha, bigode não."
- "Não, querida, os lábios dela aqui ó."
Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios ? Putz, que idéia.
Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.
- "Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor."
Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.
- "Olha, tá ficando linda essa depilação."
- "Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto."
Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. - "Me leva daqui, Deus, me teletransporte". - Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.
- "Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?"
- "Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada."
Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da puta arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.
- "Vamos ficar de lado agora?"
- "Hein?"
- "Deitar de lado pra fazer a parte cavada."
Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.
- "Segura sua bunda aqui?"
- "Hein?"
- "Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda."
Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê... Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:
- "Tudo bem, Pê?"
- "Sim... sonhei de novo com o fiofó de uma cliente."
Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu twin peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil cús por dia. Aliás, isso até aliviava minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá?
Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.
- "Vira agora do outro lado."
Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A bruaca da salinha do lado novamente abre a cortina.
- Penélope, empresta um chumaço de algodão?
Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem?
Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.
- "Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha."
- "Máquina de quê?!"
- "Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol."
- "Dói?"
- "Dói nada."
- "Tá, passa essa merda..."
- "Baixa a calcinha, por favor."
Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha!!!...como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cú. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.
" - Prontinha. Posso passar um talco?"
- "Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha."
- "Tá linda! Pode namorar muito agora."
Namorar...namorar... eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso . Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada.
(Autoria desconhecida)
Copiado do blog: http://www.mdig.com.br/?itemid=1384 no dia 21/03/2014 às 13:48
Nossa, o almoço com Thor foi maravilhoso! É tão bom vê-lo apaixonadíssimo. Quando cheguei ao restaurante, ele estava sentado me esperando, e ao seu lado havia uma bela moça.
- Bom dia Thor! Como vai?
- Querida Bárbara, estou ÓTIMO, melhor impossível. E você?
- Estou bem. Apresente-me à esta bela moça ao seu lado.
- Babby, está é a minha noiva, Isabela.
- Nossa, que maravilha! Você noivo? Fico feliz por vocês!
- Só peço-te desculpas; sabia que seria um almoço de negócios, porém não resisti e trouxe minha amada. Simplesmente não aguento ficar longe dela.
Nós três rimos ao mesmo tempo. É muito engraçado vê-lo tão apaixonado – pensei que não viveria para ver este dia.
O almoço de negócio transformou-se em uma reunião de amigos, totalmente descontraídos. Fiquei impressionada com Isabela, pois além de linda, é muito meiga, reservada e gentil. Foi realmente ótimo conhecer a mulher que conquistou o coração do selvagem Thor. Com sua docilidade, ela amansou a fera. Quem diria não? E eu aqui, vivinha da Silva presenciando este dia. Tenho que contar para a Patty...
- Então, nos vemos depois. E Thor; pode ficar tranquilo, pois resolverei todas estas questões pendentes de sua empresa.
- Não espero menos de você Babby. Ah, assim que marcar com o seu noivo, avise-me para marcarmos um encontro de casais.
Droga! Acabei não contanto sobre meu rompimento com o Caio - Não achei propício tocar neste tipo de assunto tão pessoal em um almoço de negócios.
Saio do restaurante, ligo meu celular e vejo que tenho diversas ligações do escritório. Antes mesmo de retornar, aparece no visor do aparelho uma nova chamada. Atendo e duas loucas desvairadas começam a falar desenfreadamente.
- Bárbara, a culpa não foi minha! - Essa é a Marcinha falando.
- Bárbara a culpa é dela sim. - Essa é a Paty.
Elas gritam tanto no telefone falando ao mesmo tempo, que não consigo entender absolutamente nada. Estou tão feliz por correr tudo bem no meu almoço de negócios. Minha vida pessoal não poderia estar melhor, que juro não estressar-me sobre o que quer que essas duas tenham a dizer-me e de quem é a culpa pelo quê não faço a menor ideia. Tomo esta decisão em meio ao barulho que as duas gralhas fazem, e ainda estou perdida em meus pensamentos quando ouço uma delas falar a palavra mágica: Marco.
-Helloooooooooooooooo, parem de gritar agora! Seja lá o quê tenham a me dizer, que comece uma por vez. Prometo ouvir as duas, mas, por favor, o que o Marco tem haver com essa gritaria toda? - Não retornaria ao escritório à tarde, pois me programei para tirar o dia para que resolver algumas coisas pessoais. No entanto, diante dessa confusão, preciso voltar o mais rápido possível. – Silencio as meninas dizendo que me esperassem, pois já estava chegando. Quando chego ao escritório, a Marcinha está pálida. Será que estava passando mal?
- Marcinha, o que foi? – Pergunto preocupada.
- Bárbara, nem sei por onde começar... – Me diz ansiosa e totalmente nervosa.
Do nada, ouço a voz de Patty pedindo desculpas. Falava tão rápido que atropelava as palavras.
- Babby, eu juro que não sabia que ele estava aqui! Começa a falar nervosa. - Entrei tão eufórica que não percebi que ele estava na recepção. Amiga, eu não fiz por mal! Perdoe-me? Por favor!!! - Não entendia até o momento o porquê das desculpas.
- Foi sim, a sua culpa. - Ataca Marcinha.
- Vocês duas se acalmem! Respirem fundo e me contem qual é a catástrofe?
As duas começam a falar ao mesmo tempo e por isso não entendo nada! Falam tudo embolado; uma coloca a culpa na outra, a outra acusa de sonsa, que rebate que a outra é boca grande e no fim só ouvi ofensas.
- Mulheres, acalmem-se! O quê tem o Marco? O que você fez? Não entendo absolutamente nada. E Patty, vamos para a minha sala. - Não quero abrir espaço para que todos ouçam o seu desespero.
Caminho a passos largos em direção a minha sala com minha melhor amiga no meu encalço. De morena a Patty passou para branca feito neve. Estou ficando preocupada, pois ela nunca se desespera. - Não há para onde fugir, então peço que comece a explicação sobre toda essa loucura.
- Pronto Patty, desembucha! O quê aconteceu? Já estou aflita e pela sua cara, ou alguém morreu ou você matou alguém. Por favor, comece do início e não atropele as coisas, pois quero entender o teor da confusão. – Dou um tempo para que respire fundo e peço que refaça a ordem cronológica dos acontecimentos. – Preciso entender em que momento começou essa bagunça.
- Tudo bem. Então, fui almoçar e quando voltei já entrei na recepção perguntando por você. Sabe como sou né? – Balanço a cabeça em concordância e faço um gesto pedindo que continue a falar.
– Reclamei brincando que você não me levou para almoçar com você logo hoje que estaria acompanhada pelo Thor, aquela delícia de homem! Sonhava com aquele exemplar de macho, aqueles olhos verdes e me contentaria somente em admirá-lo.
Interrompo-a para contar o babado sobre o Thor. - Ah, antes que eu me esqueça, ele está noivo e no almoço você ficaria super chateada, pois ele a levou para apresentar-me. Isabela é seu nome e por sinal amiga, ela é linda e super simpática. Enfim, continue a sua história.
- Jura??? Não acredito! E eu que tinha minhas esperanças de agarrar aquele homem. Ainda bem que não fui. Noivo ou não, ele continuará povoando meus sonhos de calcinha molhada... – Olho para a Patty sorrindo. Ela não tem jeito mesmo...
- Foco Patty... – Tenho que lembrá-la do motivo da conversa.
– Ai, desculpe a viagem. Deixe-me continuar. Onde é que estava mesmo? Ah, lembrei. Então, quando terminei de falar isso, a Marcinha me repreendeu e só então me avisou que não estávamos sozinhas na recepção. Quando me virei para ver a terceira pessoa do ambiente, eu quase morro.- Amiga, me desculpa... O Marco estava aqui te esperando! Ele ouviu a minha conversa e pensou que você tinha ido almoçar com o Thor, mas que era um encontro amoroso e não um almoço de negócios.
Neste momento dou um pulo da cadeira. - Puta merda, Patty! O Marco estava aqui? E ouviu a sua perversão sobre o Thor? - Meu coração fica apertado. Não entendo o porquê de minha preocupação, mas já percebi que ele é ciumento. Depois desta acho que não tenho mais um futuro namorado. – Penso com tristeza.
- Amiga, Eu tentei explicar. Falei que era um almoço de negócios, mas ele não quis nem me olhar. Saiu daqui raivoso e soltando espuma pela boca... - Ai Babby, que fora que dei. - A cara de desespero da Patty não nega o quanto ela está preocupada com a sua boca grande.
- Patty, relaxa. Se ele confia em mim, vai acreditar na verdade; que nada passou de negócios. Fique tranquila, pois no fundo ninguém teve culpa. Agora me deixe sozinha, pois vou pensar no que devo fazer agora.
- Amiga, me desculpa? - Apenas aceno com a cabeça e ela sai da sala toda triste. Não estou com raiva dela, nem poderia. Não passou de um "acidente". Agora só quero esfriar a cabeça antes de ter um ataque cardíaco fulminante; meu coração parece um tambor.
-O que faço agora? - Será que nosso primeiro encontro foi por água abaixo?
Olho no relógio e vejo que estou atrasada com o horário que tenho agendado no SPA. – Corro para meu compromisso de beleza. Se for para levar um fora, preciso estar linda, calma e com a pele lustrosa.
Estou na maca recebendo uma deliciosa massagem, mas por mais relaxante que esteja, minha cabeça dá piruetas e meu coração dispara a cada momento que relembro o que aquelas duas aprontaram. Não consigo entender o quê ele foi fazer no meu local de trabalho. Será que foi desmarcar o encontro pessoalmente?
Tento relaxar, mas nada acontece. Estou tensa e peço dois minutos para a esteticista. Ligo para o Marco - Quero saber o que ele foi fazer no escritório e dependendo da resposta, argumento sobre o ocorrido, caso contrário, deixo pra lá. Eu tenho o meu orgulho!
Primeiro toque.................. Quarto toque. – Ouço a mensagem gravada - Você ligou para Marco, não posso atender no momento. Se for urgente, deixe uma mensagem que entrarei em contato assim que possível. Vou deixar uma mensagem. Uma hora sei que ele ouvirá. Seja o que Deus quiser:
-Marco, boa tarde! Recebi um recado da minha secretária que esteve em meu escritório. Ligue-me assim que possível, por favor. Um beijo bem gostoso, no local que escolher. - Faço uma piadinha sexy, para descontrair o clima. Desligo com um sentimento de dever cumprido, seja lá o que for, ele com certeza vai retornar.
Depois de terminar a massagem, desço para o salão. Preciso me depilar e se tiver o encontro (dedinhos cruzados para que sim), quero estar lisinha feito um sabonete.
Oh dor da peste é a tal da depilação! Parece que a cada puxada minha pele vai junto. Só me lembro do conto da "depilação cavada".
Depois da dor excruciante, penso que olhando meu celular posso encontrar a paz e conforto que espero, mas nada! Nenhuma ligação, SMS, Whatsapp... Resumindo: nada de Marco. Aí minha Santinha da dor da periquita depilada, será que toda a dor e toda essa produção foi em vão?
Marco
Ando pelas ruas de São Paulo sem rumo; preciso me desabafar com alguém! E quem melhor do que meu amigo de fé, meu irmão camarada e parceiro de vida, o Pedro? Vou aproveitar e conhecer seu novo escritório. Com toda a correria que tem sido minha vida, não pude nem ir à inauguração.
No fórum não tenho nada agendado. Deixei várias instruções ao Marcelo e espero conseguir colocar todos os meus pensamentos em ordem. Esta semana aconteceram muitas coisas na minha vida pessoal e agora estou irritado, confuso, aéreo... Isso nunca aconteceu comigo. Jamais misturei pessoal com profissional. E agora estou tão enrolado que não me lembro onde estão minhas pontas.
Chego ao escritório do Pedro. Fico feliz pelo meu amigo, ele preocupou-se com todos os detalhes; entrada com rampa para cadeirantes, corrimão para auxílio de pessoas idosas, no interfone há teclas em braile... Uma das maiores virtudes do Pedro é o respeito que têm pelo próximo e pelas diferentes necessidades das pessoas. Desde que estudamos juntos, nunca admitiu bullying com nenhum dos nossos amigos. Defendia todo mundo, e assim foi admirado por muitos e odiado por outros. Sempre o respeitei e estive ao seu lado em todos estes momentos.
Pedro é tão gente boa e tranquilo, que até tutor de uma garota mimada tornou-se. Beatriz acabou ficando sozinha depois que seus pais sofreram um acidente, e ele como o único amigo do Valter e primo de terceiro grau de sua esposa, acabou sentindo-se responsável pela órfã. Por essas e outras que ele é meu amigo irmão e tenho certeza de que ele não viraria as costas para ninguém.
Quando sou atendido, me surpreendo com a funcionária que está na recepção. Pois bem, depois de tantas implicâncias e xingamentos, olha quem trabalha para o Pedro? A menina mimada, Beatriz, que se transformou em um mulherão de parar o trânsito.
- Marco! Que felicidade receber você em nosso escritório. - O Pedro não vai acreditar quando anunciar a ele quem está aqui. – Me diz com um sorriso no rosto.
- Beatriz, estou surpreso te vendo aqui. Como vai?
- Estou ótima. Pedro além de ter sido meu tutor e ajudado no momento mais difícil da minha vida, me deu esta chance de trabalhar em seu escritório. – Não me admira ouvir isto conhecendo o amigo que tenho.
- Que bom, fico feliz por você. Mas cadê o Pedro? Estou em falta com meu amigo.
Ela interfona para Pedro e fico observando-a falar no telefone. Confesso que isso foi estranho; a cada som que ela emite seu rosto vermelho. Ela desliga e me olha sem jeito.
- Marco me acompanhe, vou levá-lo até a sala dele. – Enquanto seguimos para a sala de meu amigo a observo melhor. Caramba, a Beatriz está gata! Cara, sou homem e percebo o quão bonita ela ficou.
Saio deste pensamento para admirar as telas de artistas que ele tem no corredor. Lembro de estar com ele quando comprou várias delas. Ele as adquiria de artistas com alguma deficiência, pois achava que seria por causas justas. Mas não era por pena; as obras eram realmente belíssimas e carregadas de emoções e significados. Até hoje como amigo, questiono-o sobre esse fascínio que tem por artistas com alguma deficiência.
Quando Beatriz abre a porta sinto um clima diferente entre os dois e prefiro, não comentar nada.
- Fala Marco! Que surpresa é esta?
- Pois é, estou em falta com você e além do mais, preciso desabafar! Será que atrapalho?
- Claro que não. Já terminei alguns projetos. Senta aí. Vou pedir para Bia trazer algo pra gente. - Bia? Lembro-me que antigamente ele a chamava de “pirralha”.
- Querida... Eh, quer dizer... Beatriz, por favor, peça para a dona Mirtes, que traga um café ao Marco e uma água com gás para mim. Obrigado.
- É impressão minha, ou está rolando algo aqui que eu não sei? - Indago.
Pedro arregala os olhos, surpreso por minha pergunta tão franca. - Rolando algo? Está doido Marcão? E dá um riso forçado, totalmente sem graça.
- Tudo bem, não irei questioná-lo. Quando sentir vontade de me contar, sabe que pode me procurar. - Enfim, mas vim aqui para desabafar, antes que eu fique louco.
- Espera aí! - Me deixa adivinhar, nem precisa falar: É Bárbara o nome da sua loucura? Porque sobre nossa princesa, você já ligou hoje dando boas notícias.
- Claro que é cara. Estou totalmente perdido; ela me deixa louco! Estou louco de ciúmes! Quero ficar com ela, que ela seja minha, mas o ciúme está apertando a minha mente, não sei o que fazer. Agora mesmo, fui fazer uma surpresa e quando chego ao escritório, fico sabendo que ela foi almoçar com um cara chamado Thor. De acordo a amiga, o cara é um deus grego. – Falo nervoso só em imaginá-la com ele.
- Marco, vá com calma. Rebobina a fita e me conta a novidade. Você e Bárbara estão juntos?
- Estamos? - Falo em um murmúrio. - Não sei mais nada! Até que a porta se abre e entra Beatriz com o meu café e água para o Pedro.
- Desculpa pela demora, mas a dona Mirtes teve que sair mais cedo e tive que atender algumas ligações.
- Que ligações? – Pedro pergunta com o cenho franzido.
- Pedro, depois falamos sobre isso. – E Beatriz saiu deixando-nos sozinhos. Vejo labaredas de fogo nos olhos do meu amigo. Aí tem!
Beatriz sai da sala e deixa um Pedro totalmente transtornado. Ele não quer demonstrar, mas eu sei que ele está incomodado com algo e tem relação com as tais ligações.
- Desculpa Marco. Continue, conte sobre a Bárbara.
Suspiro e penso em um problema por vez. Vou contar a minha angústia, mas quero escutar a dele também. Enfim, depois de contar detalhe por detalhe - menos as questões íntimas, pois não quero nenhum marmanjo pensando na minha mulher - Ele me diz entre gargalhadas:
- Amigo, se você está se mordendo por ela ter ido almoçar com um cliente e está nesta agonia toda, só tenho uma coisa a dizer: - Dr. Marco Ladeia, o Senhor está arriado com os quatro pneus e o estepe pela Srta. Bárbara. E você está apaixonado como nunca te vi antes.
Fico pensando no que meu amigo disse. Paixão? Será? Meu coração está acelerado só de falar. Diante da simples menção ao nome dela, tudo muda, meu pensamento viaja até minha Sereia e minha reação é outra. Estou enlouquecido por esta mulher!
Continuamos nossa conversa e depois de uma agradável tarde com o Pedro, entre bate papos e conselhos, ligo meu celular e lá está uma mensagem de voz. Ouço e no mesmo momento retorno a ligação. Até nas mensagens ela tem uma boca inteligente que adoro.
- Olá? - Ligo no impulso do momento.
- Olá. – Respondo - Estou retornando sua ligação, cheio de ideias sobre esse beijo que me prometeu...
-Uhumm, e eu te liguei, porque fiquei curiosa para saber o motivo da visitar de um lindo juiz, hoje na hora do almoço.
- Esse juiz teve uma manhã maravilhosa pensando numa certa contadora e decidiu convidá-la para almoçar, mas acho que ele chegou tarde.
- Poxa!!! - Que honra ser convidada para um almoço com o Senhor Juiz Gostoso. Se soubesse, largaria o maior cliente da minha empresa com certeza para desfrutar desse almoço.
Será mesmo que ouvi isso? Ela disse que largaria um almoço de negócios para almoçar comigo? Essa mulher não existe! Estou aqui achando mil coisas, com ciúme bobo e ela encarando isso com toda a naturalidade que a situação tem.
- Honrado fiquei eu agora com essa demonstração de carinho. Estou louco para te buscar para o nosso primeiro encontro. – Nem pareço o mesmo de horas atrás.
- Que horas você vem me buscar.
- Às 20:00 está bom pra você?
- Está ótimo.
Desligo o telefone ansioso, eufórico e cheio de expectativas. Já estou louco com saudades daquela boca perfeita, de sentir seu cheiro de morango, além de abraçá-la com força. Estou viciado nesta mulher! Minha Sereia. Minha!
¹ DEPILAÇÃO CAVADA
- "Tenta sim. Vai ficar lindo."
Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.
- "Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
- "Vai depilar o quê?"
- "Virilha."
- "Normal ou cavada?"
Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.
- "Cavada mesmo."
- "Amanhã, às... deixa eu ver...13h?"
- "Ok. Marcado."
Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique.
Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado.
Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de Calígula com O Albergue. Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso
cantinho: uma maca, cercada de cortinas.
- "Querida, pode deitar."
Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus , era O Albergue mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.
- "Quer bem cavada?"
- "...é ... é, isso."
Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.
- "Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.
- "Ah, sim, claro.
Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).
- "Pode abrir as pernas."
- "Assim?"
- "Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado."
- "Arreganhada, né?"
Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar. Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.
Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.
- "Tudo ótimo. E você?"
Ela riu de novo como quem pensa "que garota estranha". Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes.
O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.
- "Quer que tire dos lábios?"
- "Não, eu quero só virilha, bigode não."
- "Não, querida, os lábios dela aqui ó."
Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios ? Putz, que idéia.
Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.
- "Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor."
Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.
- "Olha, tá ficando linda essa depilação."
- "Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto."
Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. - "Me leva daqui, Deus, me teletransporte". - Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.
- "Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?"
- "Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada."
Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da puta arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.
- "Vamos ficar de lado agora?"
- "Hein?"
- "Deitar de lado pra fazer a parte cavada."
Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.
- "Segura sua bunda aqui?"
- "Hein?"
- "Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda."
Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê... Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:
- "Tudo bem, Pê?"
- "Sim... sonhei de novo com o fiofó de uma cliente."
Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu twin peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil cús por dia. Aliás, isso até aliviava minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá?
Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.
- "Vira agora do outro lado."
Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A bruaca da salinha do lado novamente abre a cortina.
- Penélope, empresta um chumaço de algodão?
Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem?
Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.
- "Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha."
- "Máquina de quê?!"
- "Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol."
- "Dói?"
- "Dói nada."
- "Tá, passa essa merda..."
- "Baixa a calcinha, por favor."
Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha!!!...como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cú. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.
" - Prontinha. Posso passar um talco?"
- "Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha."
- "Tá linda! Pode namorar muito agora."
Namorar...namorar... eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso . Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada.
(Autoria desconhecida)
Copiado do blog: http://www.mdig.com.br/?itemid=1384 no dia 21/03/2014 às 13:48
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