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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Nina Reis - Uma Flor em meu Jardim - Parte II

Três meses depois...

Maria Flor andava de um lado para o outro na sala de espera do advogado ainda indignada. Cássio, o homem protozoário, entrara com uma ação contra ela, alegando direito ao apartamento e a loja com base na lei de união estável, o homem era um verme!

- A senhorita aceita um chá ou água? – Já era a terceira vez que a eficiente secretaria que usava um caro terninho escuro fazia a pergunta.

- Um copo de água, obrigada. – ela se forçou a sentar, mas estava ansiosa demais, na realidade o ambiente sofisticado e elegante daquele escritório a estava intimidando também, começava a imaginar o quanto seriam os honorários cobrados para manter um escritório de cinco andares num dos edifícios comerciais mais caros da cidade. Ela forçou um sorriso a secretária que voltara com seu copo de água gelada.

- Não se preocupe, o Dr. Lins e Silva a atenderá daqui a pouco. – ela disse naquele tom polido que a fazia ter vontade de gritar de frustração, parecia que todas as mulheres daquele escritório emanavam elegância e sofisticação, o que fazia piorar ainda mais seu estado de espírito, nunca se sentira tão deslocada em sua vida. – Ele é um excelente advogado, pode confiar nele. – ela disse simpática e Maria Flor se sentiu ainda pior, a moça só estava fazendo o trabalho dela e sendo gentil. Era sua culpa, ter imaginado que estava apaixonada pela cobra asquerosa e ter dividido o mesmo teto com o sujeito durante um ano.

Cristo! – ela rezou ela rezou em silêncio.

Nos últimos três meses, sua vida fora atribulada, esperara quinze dias pelo desconhecido que Rafa apelidara de homem da seda, ele não aparecera nem dera notícias, porque deveria? Quando um homem como aquele ficaria louco por uma mulher comum como ela?

Então fora à Holambra para um curso de paisagismo, floricultura e gestão comercial, para qual se inscrevera com um ano de antecedência, os custos com viagem ida e volta eram altos e como Rafaela se prontificou a cuidar da floricultura, ficara um mês fora da cidade.

Seu coração se aqueceu ao recordar da cidade que parecia saída de um conto de fadas, a beleza e a tranquilidade a ajudaram a curar o coração machucado. No final do curso, uma surpresa, fora indicada para uma bolsa de dois meses em Aalsmeer, na Holanda, para aprender as mais modernas técnicas em floricultura.

Dias depois embarcara para Holanda, fora uma experiência incrível, a cultura, a beleza da cidade, poder visitar o maior e mais famoso mercado de flores do mundo, não só a preparara melhor para gerir seu negócio, mas a ajudara a curar sua alma e quando retornou ao país há dois dias ficara sabendo que Cássio, a ameba, queria tirar dela sua loja e seu apartamento, só por cima do seu cadáver, poderia até perder seus bens para pagar a fortuna que cobrariam esses advogados, mas ele não veria um centavo do seu dinheiro. – pensou determinada.

O som da porta do escritório se abrindo a fez abandonar suas divagações, ansiosa levantou e olhou em direção da secretária aguardando a autorização para entrar na sala, porém sentiu o coração bater desesperado ao reconhecer a voz de um dos homens que agora falavam a porta da sala do tal Dr. Lins e Silva, eram homens muito parecidos, mas era o mais alto que fez seu coração quase sair pela boca. Estava olhando para o seu homem da seda.

Ele sentiu o perfume inconfundível antes de vê-la, num minuto finalizava a conversa com Maurício, seu irmão mais novo, especializado em direito de família no minuto seguinte enxergava parada em meio à sala de espera a personificação de seus desejos, há três meses estava obcecado por encontrá-la ela parecia ter desaparecido da face da terra, a amiga que ficara responsável pela floricultura não lhe dissera nada sobre ela nem seu paradeiro e agora lá estava ela, linda, as curvas disfarçadas por um vestido formal, decididamente ele preferia quando ela usava jeans, pensou enquanto caminhava em sua direção.

- Oi. – ela o cumprimentou tímida e isso foi o que o salvou de uma cena no escritório, pois estava pronto para beijá-la ali mesmo, diante de todos.

- Oi – ele respondeu. Cara como era difícil manter as mãos longe dela – pensou. – Como me achou? – ele perguntou, pois apesar de deixar o telefone com a amiga nervosinha, ele não disse seu sobrenome ou no que trabalhava.

Ela olhou para ele visivelmente confusa e foi Sandra, a secretária do irmão que esclareceu a situação.

- Na verdade a senhorita Salles Guerra tem hora marcada com o Dr. Maurício.

- Veio falar com meu irmão? Por quê? – Dessa vez foi o próprio Dr. Mauricio que intercedeu.

- Vejo que conhece a senhorita Salles Guerra, então porque não nos acompanha em nossa reunião? – Mauricio sugeriu, sem esconder do irmão a curiosidade pela reação do mais velho a presença da jovem mulher.

- Claro.

- Não.

Responderam ao mesmo tempo.

- A senhorita tem objeção a presença do meu irmão?

Estava pronta para responder que sim quando o homem de seda sussurrou ao seu ouvido.

- Maria Flor não tem força na terra que me afaste dessa sala.

- É claro que não. – ela forçou um sorriso, e acompanhou aos dois homens e preparou seu espírito para mais uma seção de humilhação diante desse homem.

Dr. Mauricio se acomodou atrás da elegante mesa, enquanto ela e o irmão dele, que continuava sem nome, sentou ao seu lado.

- O Henrique me adiantou seu caso, você trouxe os documentos que minha secretária pediu?

- Estão aqui. – ela entregou a pasta que trazia – Dr. Maurício quero lhe agradecer por ter me atendido tão rapidamente.

O homem ergueu brevemente os olhos do conteúdo da pasta.

- O Henrique é um grande amigo, você foi muito bem recomendada, ele me disse que se eu não cuidar bem de você, sou um homem morto e como amo minha vida...
O comentário a fez sorrir.

- Quem é Henrique? – Miguel perguntou enciumado chamando a atenção do irmão.

- Ele é o noivo da Rafaela. – ela esclareceu, seu corpo inteiro em alerta pela proximidade dele, sua mente girava processando informações, ele era um Medeiros Lins e Silva? Oh meu Deus, havia homem mais inatingível? Talvez o homem mais rico do Brasil fosse mais acessível que qualquer membro daquela tradicional família.

- Sua amiga irritadinha? – a pergunta a fez levantar uma sobrancelha, do jeito que o fazia lembrar da discussão que tiveram por conta das flores de sua mãe.

O irmão pigarreou chamando a atenção dos dois.

- Seu ex namorado não tem um caso, na verdade ele esta tentando uma manobra muito utilizada por advogados.

Maria Flor teimou em aceitar que seria tão fácil se livrar do sangue suga do ex – namorado.

- Esta me dizendo que mesmo com a união estável, ele não tem direito a nada? –Oh Deus permita que seja verdade.

Miguel ouviu a razão dela estar ali e jurou que daria uma lição no desgraçado.

- Senhorita Salles Guerra, seus bens são anteriores ao tempo em que moraram juntos, está tudo muito bem documentado, vocês não possuíam conta conjunta, então ele não pode alegar que tem parte da sua renda mensal. Pelo que pude notar, nenhum depósito em dinheiro ou cheque foi feito por ele, nem em sua conta pessoal, nem na conta do estabelecimento. Ele pode até alegar união estável, mas não terá direito a nenhum de seus bens. O que ele quer é fazer pressão psicológica, o advogado dele está contado com sua ingenuidade ou desconhecimento das leis, eles jogam verde, para colher um belo acordo.

- Acordo? – ela perguntou confusa.

- Sim, eles a assustam, você os procura, o advogado lhe propõe um acordo, claro, uma pomposa soma em dinheiro, porém bem menor do que representam a venda de seus bens, você preferindo não arriscar, aceita o acordo, acreditando que estava prestes a perder tudo.

- É uma jogada medíocre, mas acredite, funciona mais do que possa imaginar, infelizmente.

- Vamos processá-lo. – Miguel não fez uma pergunta, e o sorriso do irmão demonstrou que entendia a ordem do mais velho.

- Com todo prazer. – Mauricio respondeu.

- Podemos processá-lo? – Maria Flor não chegara a pensar nessa hipótese até aquele momento, mas nunca algo lhe pareceu tão justo.

- Você fez algo que há muito tempo não via, documentou com testemunhas o adultério, quem a orientou está muito bem informado, apesar de adultério não ser desde 2005 um crime penal, o direito cível tem registrado inúmeras sentenças de danos morais e no seu caso, uma micro empresária bem sucedida, podemos incluir danos a imagem e porque não financeiro?

- Ele pode ir preso? – apesar de desejar justiça, não queria ver o miserável preso.

- Dificilmente, mas terá bastante trabalho comunitário, além de arcar com uma gorda indenização.

O alívio foi tamanho que ela não conseguiu esconder, respirou fundo, os olhos estavam marejados, tentou disfarçar, mas foi em vão.

- Desculpem, mas eu estava tão preocupada. – ela respirou fundo mais uma vez tentando conter as lágrimas de alívio. – Na verdade estava apavorada. – ela pegou o lenço que o homem da seda lhe estendeu.
Dr. Mauricio lhe sorriu solidário.

- Seja bem vinda a Lins e Silva Advogados Associados, será um prazer tê-la como cliente.
- Obrigada.

Nos minutos seguintes ela foi orientada quais documentos deveriam ser providenciados e de como seria o andamento do processo. No instante em que se viu fora da sala do agora, seu advogado, se viu sendo levada pelo homem da seda em direção da porta mais próxima que descobriu ser a que dava acesso a escadaria.

- Por onde andou nos últimos três meses e porque não respondeu nenhum dos meus recados, porque não me ligou? – ele estava furioso, não com ela, ela o deixava frustrado, pois agora que seu escritório a representava não poderia tocar num fio de cabelo dela. Não até o fim da porra do processo. Merda! – praguejou em pensamento.

Ele estava com os dois braços apoiados a parede atrás dela, um de cada lado de seu corpo, não tinha para onde ir, nem como espaçar dele, espera aí, ela ouvira direito?

- Você me deixou um recado? Quando? – o cheiro dele, madeira e chuva a estavam embriagando – Antes de mais nada, você tem um nome? – Rafaela tinha muito quem lhe explicar. – ela pensou.

A pergunta o fez sorrir, na noite em que ela lhe roubou a paz, tinha acabado de chegar à casa dos pais quando se deu conta que não dissera seu nome.

- Miguel Medeiros Lins e Silva. – Nossa, o perfume dela o estava matando.- Sou advogado e tenho trinta e cinco anos.
Ela sentiu o peito afundar ao ouvir dos lábios dele a confirmação do sobrenome importante.

- Prazer Miguel – ela brincou para disfarçar sua decepção – sou Maria Flor Salles Guerra, sou florista e tenho 28 anos.

Os Salles Guerra tinham sido uma importante família da sociedade paulistana, mas o dinheiro com os anos se fora, sobrou somente o sobrenome de tradição que ele já percebera que ela fazia questão de ignorar a importância, algo lhe dizia que havia uma história ali e ele investigaria.

- O prazer é meu Maria Flor Salles Guerra. – ele se aproximou ainda mais, os lábios a centímetros do dela. – Droga! – ele praguejou – Não posso tocar em você.

- Não pode? – oh Meu Deus, ele é casado? Perguntou-se ainda mais confusa.

- Não até o fim desse maldito processo. Meu escritório representa você, não há lei que proíba, mas o advogado do seu ex namorado pode alegar conflito de interesses, você entende?

- Devo mudar de advogado? – A pergunta o fez sorrir, adorava a maneira ingênua, quase inocente dela pensar.

- Não há melhor advogado na vara de família que o Mauricio, quero que ele cuide de seu caso, mas isso manterá minhas mãos longe de você durante no mínimo três meses.

- Mínimo? – que conversa era aquela?

- Se ele levar mais que noventa dias nesse processo eu juro que darei uma surra no meu irmão.

Cristo, ele precisava beijá-la. Para o inferno com o processo, ele podia comprar o edifício na Consolação e o apartamento e dar de presente a ela. – Quero muito amar você Maria Flor, nem imagina o quanto. – sussurrou junto à orelha dela. – Aquela sua amiga super protetora não acreditou quando eu disse que um imprevisto me manteve nos EUA por mais alguns dias, ela me disse para esperar você, que seu eu estivesse realmente interessado, esperaria você. Consegue sentir meu corpo clamando pelo seu? – ele perguntou.

Ela não conseguia responder, estava tão sensível, sentia sua pele hiper sensível a proximidade dele, era tudo tão forte e tão novo, nunca imaginou que uma mulher poderia se sentir assim.

Fechou os olhos ao sentir a boca dele próxima a pele de seu pescoço, porém ele não a tocava, nenhuma parte do corpo dele tocava o dela.

- Três meses e nenhum dia a mais, entendeu? – ele perguntou.

- Não pode mesmo me beijar? – ela perguntou perdida, se o custo para fazer justiça era mantê-lo longe, ela já não tinha certeza se valeria a pena. – Como pode ser tão forte, quando sequer nos conhecemos? – ela perguntou.

- Não faço a menor ideia, só sei que sonho com você todas as noites e passo os dias fantasiando sobre como será sentir seu corpo sob o meu, como será estar dentro de você – ela gemeu, seria possível que ele pudesse fazê-la chegar ao orgasmo sem tocá-la? Pois ela jurava que estava quase lá.

Miguel respirou fundo, estava prestes a mandar tudo ao inferno, aquela mulher conseguia turvar sua mente, inverter suas prioridades.

-Vou acompanhar você até seu carro, antes que nós dois façamos algo que podemos nos arrepender depois.

- Na verdade eu vim de metrô – ela percebeu que ele não gostara nada da resposta. 

- Vou levá-la até a floricultura.

- Não. – ela respondeu. – É melhor eu descer sozinha.- a última coisa que precisava nesse momento era estar num carro sozinha com ele, quando seus hormônios estavam todos fora de controle.

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Longos Três meses depois

- Graças a Deus! – Maria For exclamou ao entrar em seu apartamento. Seu pesadelo chegara ao fim, tivera que encarar Cássio e a mulher fruta do 52 na sala de espera da audiência, mas ver a expressão do verme enquanto o juiz lhe dava um sermão sobre como ele deveria procurar ganhar o próprio dinheiro ao invés de tentar explorar mulheres não tinha preço e por falar em preço, após deixarem o fórum, seu advogado anunciou que os honorários não seriam cobrados, que os serviços prestados foram uma cortesia do escritório Lins e Silva.

Ela trocou de roupa, colocou uma calça de malha folgada e uma blusa curta, apesar de lá fora estar dez graus o interior do apartamento estava aconchegante e o chão de madeira lhe permitia andar descalça pelo apartamento.

Rafaela estava a caminho, dissera que traria uma champanhe para comemorar sua liberdade da anta humana.

Ela sorriu ao pensar na amiga, eram como irmãs, já haviam passado por coisas boas e ruins juntas, tinham uma amizade preciosa, agradeceu a Deus por ter alguém como ela em sua vida e agora também eram oficialmente sócias.

Sua mente evocou a imagem de um homem moreno, não se viam ou se falavam há três meses... A mulher prática nela dizia que três meses eram muito tempo, a sonhadora queria ligar para ele e lembrá-lo que os três meses chegaram ao fim.

Ela suspirou, essa noite celebraria com sua amiga, amanhã, se tivesse coragem suficiente, ligaria para ele.

O som da campainha anunciou a chegada de sua convidada.

- Chegou rápido, alugou um helicóptero? – brincou ao abrir a porta, mas do outro lado não estava a amiga de toda uma vida.

- Três meses e nenhum dia a mais. – Miguel disse ao entrar. Essa mulher não tinha ideia de quantos favores teve de pedir para garantir que não ficaria nem mais um dia longe dela.

- Você desapareceu. – ela argumentou.

- Você me disse que tinha entendido o que disse a você.- disse ao fechar a porta.- Acompanhei cada fase do processo Maria Flor, acompanhei você através dos comentários do Maurício e da Rafaela – ela o interrompeu.

- Você tem falado com a Rafaela? – ela perguntou atônita a bandida não lhe dissera nada.

- Fiz mais que isso. – ele confessou – sei que apesar de estar longe do ideal, sua situação financeira é mais confortável que há seis meses, sei que cuida desse prédio que herdou com carinho que não existe em proprietários nos dia de hoje.

Sei que minha mãe vai regularmente a floricultura só para conhecer melhor a mulher que roubou o coração do filho mais velho dela.

- Sua mãe vai a minha floricultura? - ela estava pasma – Não pode ser.

- Você a chama de Dona Luíza. – ele estava rindo, acabara de dizer que estava apaixonado e ela sequer percebera.

- Mas ela é loira? – adorava Dona Luiza, ela era alegre, divertida, elegante e de uma simplicidade impar e adorava lírios, como não percebera? – Sempre achei que ela fosse morena.

- Sei que sua família sofreu muitas humilhações quando perdeu o dinheiro e se eu pudesse faria cada pessoa pagar por cada insulto dirigido a seus pais e a você.

– disse eliminando o espaço entre eles. – Sei que tem um coração generoso e que apesar das coisas pelas quais passou, acredita na bondade inerente que existe em cada pessoa – ele passou um braço pela cintura dela, a outra mão afagava o rosto delicado – tenho muito orgulho de você Maria Flor Salles Guerra e por ultimo e não menos importante, sou muito grato por não ter feito o tal voto de castidade que mencionou quando nos conhecemos.

Ela estava tão imersa nas sensações que ele provocava em seu corpo que demorou cinco segundos para entender seu comentário e quando o fez explodiu numa gargalhada deliciosa.

- Você é minha Maria Flor, finalmente é minha.

- Sua. – ela sussurrou instantes antes de ser beijada com tanta paixão e reverência que levou lágrima a seus olhos.

- Para sempre minha flor. – ele sussurrou em seu ouvido.


- Para sempre – ela respondeu.

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