CAPÍTULO IV
Laura sentia-se muito mal. Na verdade, não tão mal assim, admitiu, pa¬rando no saguão do térreo, com as mãos nos quadris. Mas mal o bastante para ficar acordada, vagando por aquela casa enor¬me à meia-noite. Como gostaria de ter mantido a boca fechada! Esse era o resultado de ter sido criada numa casa cheia de crianças, onde precisava elevar a voz para que prestassem atenção nela. Agora queria uma chance para se desculpar, mas Richard não respondia ao interfone.
Muito bem. Era um homem teimoso, embora soubesse que ela dissera a verdade. Sabia que despertava nele sentimentos e emoções esquecidos, já que vivendo recluso no castelo não tinha a chance de sentir coisa alguma, havia muito tempo. Agora ela estava ali, e também a filha, o que tornava o iso¬lamento ainda mais intenso e difícil de suportar.
Mas ele também fazia Laura sentir emoções perturbadoras. Ao lado dele sentia-se ainda mais feminina, mais desejada. E de repente percebeu como evitara tudo isso depois que rompera o noivado com Paul. Mas estar perto de Richard provocava sensações que nunca experimentara antes. O coração batia forte, a pele ficava quente, rosada, e um desejo intenso de que a tocasse surgia de forma incontrolável.
Só não tinha certeza se gostava disso. Paul quase destruíra sua autoconfiança e ela aceitara o em¬prego na Wife Incorporated para afastar-se dele. Será que queria envolver-se com outro homem que dava tanta importância às aparências? Porque era exatamente o que Richard fazia.
Suspirando, acendeu a luz da biblioteca e entrou. Era um lugar muito bonito. As paredes eram cobertas de estantes repletas de livros, havia um sofá e uma poltrona diante da lareira e uma escrivaninha num dos cantos. Era um aposento mas¬culino, pensou, sentindo o perfume de tabaco de boa qualidade que vinha do cachimbo, apoiado no cinzeiro de cristal. O olhar dela percorreu a sala, parando na porta.
— Sr. Blackthorne?
A idéia de vê-lo era ao mesmo tempo amedrontadora e ex¬citante. Não houve resposta, e ela pegou o cachimbo, perce¬bendo que estava morno.
Olhando a sala, tentou imaginá-lo ali. Será que se sentia confortável, rodeado por livros? Será que eram os únicos com¬panheiros que tinha, além de Dewey? Um sentimento de pie¬dade a invadiu, mas Laura afastou-o depressa, sabendo que Richard detestaria isso.
Deslizando os dedos pelos livros nas prateleiras, leu os tí¬tulos, continuando até a escrivaninha e sentando-se na cadeira de couro. Será que ele lia todas as noites? Será que a presença dela lhe roubara toda a liberdade?
Será que, algum dia, se aproximaria dela e de Kelly e teria uma vida normal? Ela conhecia bem as crianças e sabia que a menina não aceitaria aquela situação por muito tempo. Por isso, temia o momento em que Kelly perguntaria pelo pai. Só porque escolhera viver escondido, não podia esperar que a garotinha aceitasse a mesma vida. Laura disse a si mesma que só deixaria o castelo quando tivesse certeza de que pai e filha podiam viver juntos.
Virando-se, parou ao ver os porta-retratos, arrumados num canto da escrivaninha. Inclinando-se, pegou a foto do casamento.
— Meu Deus... — murmurou, afundando na cadeira.
Ali estava Richard, antes do acidente. Ele era maravilhoso... A ex-esposa era linda, perfeita, mas era ele quem se destacava na foto. Os cabelos escuros, os olhos azuis, como os de Kelly, o sorriso lindo. Os traços do rosto pareciam ter sido esculpidos por um artista clássico e eram perfeitos, aristocráticos. Não era apenas bonito. Era fascinante, e o coração de Laura deu um salto, ao pensar que aquele homem sentia-se atraído por ela.
No outro lado do corredor, escondido nas sombras, Richard ouviu as palavras sussurradas e mal pôde suportar a dor. Tinha se esquecido da foto. Desde o colegial, tivera mais mulheres do que podia contar, graças a sua aparência. Até o acidente.
O olhar dele pousou nas pernas nuas, quando Laura me¬xeu-se na cadeira. Ela vestia apenas uma camisa preta e com¬prida, e o corpo dele enrijeceu, sabendo que apenas alguns metros os separavam.
Mas a distância não fazia diferença. Se visse o rosto dele, saberia que o homem da foto tinha morrido, quatro anos atrás.
Laura franziu a testa, colocando a foto no lugar. Mais uma vez, olhou ao redor. Havia uma sombra no corredor e ela se levantou depressa, caminhando até a porta.
— Apareça, onde estiver, apareça.
Ninguém respondeu. Mas tinha certeza de que havia al¬guém ali.
— Pare com isso, Sr. Blackthorne — advertiu Laura, andando até o centro do saguão e tentando enxergar na semi-escuridão. — Só é um fantasma porque quer. Se tiver algo a dizer, fale!
O silêncio ecoou no vazio, mais uma vez.
— Pois bem, eu tenho algo a dizer!
Um movimento no fim do largo corredor atraiu-lhe a atenção, e Laura correu, entrando na cozinha a tempo de vê-lo sair, fechando a porta atrás de si. Ela correu para fora.
— Richard!
Por um instante ele hesitou, e então, protegido pelo agasalho preto com capuz, começou a correr para a praia. Ela observou-o até que os desenhos fluorescentes nos tênis desapareceram na escuridão.
Não pode viver nas sombras para sempre, pensou.
***
Crianças eram muito mais resistentes do que os adultos, pensou Laura, na manhã seguinte.
Imaginara que a filha de Richard estaria assustada e com medo na manhã seguinte, mas se enganara. Kelly aparecera no quarto dela, bem cedo, com um sorriso no rosto e cheia de curiosidade. Queria ver a nova casa e brincar, Laura decidiu esquecer o trabalho de casa e dedicar-se a menina.
Kelly riu muito quando Laura tentou descer pelo escorregador, que por certo não fora feito para adultos, e acabou caindo de um modo desastrado.
Kelly correu para ela, rindo sem parar.
— Acho que estou meio enferrujada.
— Vá de novo! — pediu Kelly, saltitando.
— Não. Acho que a Rainha do Escorregador é você — de¬clarou Laura, levantando e limpando o pó da calça jeans.
A menina não hesitou, e Laura sorriu ao vê-la subir depressa, as perninhas escalando os degraus altos. Kelly passou do escor¬regador para o balanço e dali para a caixa de areia. Depois, as duas correram para a praia, Laura carregando a pá e o baldinho, até chegarem à beira-mar. Para surpresa de Kelly, Laura sen¬tou-se no chão, ajudando-a a construir o castelo de areia.
— Estou toda suja de areia — disse a menina, mais tarde, enquanto observavam a maré desmanchar o castelo.
— Não faz mal. Vamos tomar um banho — disse Laura, dando de ombros.
— Não vai brigar comigo?
Ela parou, abaixando-se ao lado da menina.
— É claro que não, meu bem. É impossível brincar na areia sem se sujar.
— Minha mãe não gostava de areia.
Pobrezinha, pensou Laura, ao ver que a menina estava pres¬tes a chorar. Carinhosamente, pegou-a no colo.
O coração de Richard apertou-se ao ver como Laura carre¬gava a menina nos braços, trazendo-a para casa. O olhar dele não conseguia afastar-se das duas, enquanto se aproximavam, e desejou poder estar com elas. A angústia cresceu, ao obser¬vá-las. Não fizera outra coisa o dia inteiro, mudando de uma janela para outra, atraído pelas risadas das duas.
Laura parou nos degraus da entrada, olhando-o diretamente. Richard afastou-se da janela tarde demais. A expressão dela dizia claramente que era ele quem deveria estar ali.
Laura carregou Kelly para cima e ajudou-a a tirar as roupas molhadas. Logo a colocava num banho cheio de espuma perfumada.
Meia hora mais tarde, Kelly estava limpinha e cheirosa, pronta para uma soneca, embora insistisse que não estava com sono. Na cozinha, no entanto, acabou adormecendo sobre o sanduíche de geléia que Laura preparara. Ao carregá-la para cima, a menina passou os braços no pescoço de Laura, que a colocou na cama de princesa, cobrindo-a carinhosamente. De¬pois de acender o pequeno abajur de cabeceira, saiu silencio¬samente do quarto e desceu para a cozinha para lavar a louça. Preparou uma bandeja para Richard, um prato para Dewey e ligou o interfone.
— O almoço está servido, senhor.
— Obrigado.
— Não vou levar aí em cima. Terá que se arriscar e descer.
— Laura...
— Tenho trabalho a fazer, Sr. Blackthorne. Trabalho que não fiz porque estava brincando com sua filha.
Houve um breve instante de silêncio.
— Obrigado, Laura.
— De nada. Ela é uma criança adorável. Agora saia do seu esconderijo e venha comer.
— Está agindo como uma tirana.
Ela ignorou o sorriso que percebia na voz dele.
— Essa sou eu: Laura, a Impiedosa. — Desligou o interfone e afastou-se, mas depois de alguns segundos, voltou. — E quero que esteja aqui quando eu pedir desculpas pela noite passada.
Ela não respondeu quando o ouviu chamar seu nome. Ri¬chard ia descer, pensou Laura. Mesmo que fosse a última coisa que fizesse naquela casa, iria tirá-lo do esconderijo, nem que tivesse de arrancá-lo de lá aos berros.
Richard ouviu os gritos de Kelly, cada vez mais altos, en¬quanto descia depressa a escada que levava ao quarto da filha, amarrando o cinto do roupão. Abrindo a porta, viu a criança que se debatia sob as cobertas.
O pequeno abajur de cabeceira proporcionava apenas um brilho pálido, e os gemidos explodiram num grito, assim que ele a alcançou. Tomando a menina nos braços, sussurrou que tudo estava bem, e que estava ali para protegê-la. Ela tremia as mãozinhas agarradas ao tecido do roupão.
— Papai está aqui, querida — sussurrou, acariciando-lhe as costas. Logo ela relaxou, começando a chorar baixinho.
— Eu... Estava com medo.
— Eu sei querida, eu sei.
— Oh, papai, mamãe se foi — gemeu Kelly, e o coração de Richard apertou-se. Como uma criança de quatro anos podia lidar com morte e pesar, coisas que nem os adultos aceitavam?
— Eu estou aqui, Kelly.
Os soluços diminuíram, e quando ela passou os braços à volta do pescoço dele, Richard ficou tenso. Ela não pareceu notar as cicatrizes e ele relaxou um pouco, ninando a filha e desejando nunca mais se afastar dela. Queria tanto protegê-la, ajudá-la a livrar-se dos sonhos maus! Tinha que fazê-la sentir-se segura.
Beijando a testa da menina, falou com ela, disse-lhe como estava feliz por tê-la ali e que iria protegê-la, sempre. Ela estremeceu mais uma vez e adormeceu. Mesmo assim, Richard continuou a segurá-la. Era a terceira noite que tinha pesadelos. Laura sempre viera socorrê-la, e ele imaginava onde estaria agora. O ouvido dela parecia ser mais acurado do que o seu. Devia estar exausta, imaginou, ainda mais depois de ter brin¬cado com a menina o dia todo. Colocando Kelly na cama, co¬briu-a carinhosamente, se lembrando das cenas que vira pela ja¬nela. Laura ensinara Kelly a fazer um carrinho de madeira, e depois as duas haviam desaparecido no estábulo. Auxiliadas por Dewey, ela já tinham aparecido montando uma égua mansa. Trotaram pela praia, mas ele percebera que Laura gostaria de cavalgar contra o vento. E não pudera deixar de notar como as duas estavam ficando cada vez mais próximas. Richard ad¬mitiu estar com ciúme, embora estivesse grato ao ver como se davam bem. Laura seria uma mãe maravilhosa, e mais uma vez imaginou por que não teria se casado.
Ele ouviu a porta ranger ao abrir-se. Depressa, endireitou-se e deslizou rapidamente pela passagem secreta.
Laura entrou no quarto, com a testa franzida. Podia jurar que tinha ouvido alguma coisa. Olhou ao redor e de novo para a criança adormecida, inclinando-se para beijá-la. Ao fazê-lo, percebeu um perfume diferente, que não era do xampu de Kelly.
Era masculino, picante, e logo ficou alerta.
— Sr. Blackthorne? — sussurrou. Não obteve resposta, mas de fato não esperava uma. Mesmo com Kelly adormecida, ele estivera ali. E isso era algo importante. Significava que não era tão distante quanto fingia ser.
Deixando o quarto, percebeu que tinha perdido o sono e decidiu descer para preparar um chá de camomila. Os corredores estavam escuros, iluminados apenas pelas pequenas lâmpadas junto ao chão, enquanto se dirigia para a cozinha. Estava esquentando a água para o chá quando ouviu o barulho de madeira estalando. Correndo para a sala de estar, viu as chamas ardendo na lareira. Ele a acendera, pensou, aproximando-se do fogo para aquecer os pés nus. Podia sentir que estava atrás dela, em algum lugar.
— Venha até aqui — disse a voz masculina.
Ela virou-se. Richard estava sentado numa poltrona de espaldar alto, longe o bastante das chamas para que não pudesse vê-lo. Tinha certeza de que ele conhecia cada sombra da casa, e sabia como impedir que o visse. A constatação irritou-a pro¬fundamente. Ao fitá-lo, viu apenas o roupão de seda marrom e a calça de pijama combinando.
— Por que não está dormindo?
— Pouco exercício suponho. — Ele levou aos lábios o copo de cristal, que cintilou à luz da lareira.
Laura pôde ver que a mão direita era lisa, sem cicatrizes, e a outra continuava escondida, ao lado do corpo.
— Bem, a culpa é toda sua. Ninguém lhe disse que deve ficar escondido na torre.
— Não quero recomeçar essa discussão, Laura. Ou me deixa em paz, ou fica aqui comigo. Tem vinho na mesinha. — Richard fez um gesto com o copo.
Ela hesitou, imaginando se seria prudente ficar tão perto dele.
— Está com medo? — perguntou Richard, num tom rouco, que fazia Laura experimentar sensações perturbadoras.
Ela riu baixinho.
— De você? Não... Nunca ouviu o ditado "Cão que ladra não morde"!
— Como pode ter certeza?
— Porque nunca chega perto o suficiente para morder — ela retrucou.
— Tão corajosa — murmurou ele, tomando mais um gole de vinho e desejando que ela sentasse bem longe. As chamas iluminavam o roupão de seda preta, delineando as curvas do corpo perfeito. Ele tentou controlar a frustração, mas não con¬seguia deixar de fitá-la. Ela era perfeita, e a tensão de seu corpo era algo que não podia negar. Não queria desejá-la, mas era humano, nem um pouco diferente dos outros homens. E Laura tinha um corpo deslumbrante, pernas longas, seios far¬tos... E estava ali, à frente dele.
— Sente-se, Laura — disse, por fim, incapaz de suportar aquela visão tentadora.
— Vou pegar o meu chá.
Ela foi até a cozinha e voltou, e ao perceber que ele conti¬nuava ali, sentiu um estranho prazer. Sentando-se na ponta do sofá, em frente à lareira, tomou um gole do chá e percebeu que ele se mexia na cadeira.
Ouço sua respiração se acelerar, sinto seu corpo pulsar quan¬do estou perto, ele dissera na outra noite.
Será que tinha noção do que estava fazendo com ela agora? Laura tomou um gole de chá, tentando afastar as sensações perturbadoras, sem resultado. Fechando o roupão junto ao pes¬coço, lembrou-se da foto. Como devia ser difícil para ele, um homem que fazia as mulheres suspirar com sua beleza, perceber que agora estremeciam de repulsa ao vê-lo.
— Peço desculpas pelo que disse na outra noite — disse, olhando na direção dele.
— Por quê? Era verdade.
As palavras dele fizeram-na estremecer.
— Fui muito rude.
Richard sentiu o coração dar um salto.
— Aceito suas desculpas.
— Obrigada, Sr. Blackthorne.
— Acho que já agredimos um ao outro o suficiente para podermos nos tratar pelos nomes.
— Oh, Richard — sussurrou ela, baixinho, virando-se para ele. — Não pretendia magoá-lo.
— A verdade feriu mais a você do que a mim.
— Pare de ser tão frio! — Ela colocou a caneca de chá sobre a mesa com um gesto brusco.
— O que quer que eu faça? Que negue que sinto atração por você? Você é linda, droga!
— E daí? Minha aparência é apenas obra da natureza. Não o que realmente sou. — Laura levantou-se, furiosa por perceber que ele podia perturbá-la tanto. Principalmente porque jurara nunca mais se envolver com um homem que desse tanta im¬portância às aparências. — Sabe o que eu acho?
— Tenho certeza de que vai me dizer de qualquer modo.
Ignorando a observação, ela continuou:
— Acho que não confia em si mesmo o suficiente. Esqueceu-se como agir de modo normal, em vez de comportar-se como um urso ranzinza que foi acordado, sem querer, da hibernação.
— Sei o que quer Laura, mas não posso permitir.
Com as mãos nos quadris, ela olhou-o diretamente, perce¬bendo que os dedos fortes apertavam o copo de vinho.
— Então, minha vontade não conta?
— Minhas experiências no passado já foram suficientes — disse ele, paciente, desejando que ela estivesse usando mais roupas. — Apenas não gosto do que me faz sentir.
— Detesta? Qualquer mulher ficaria encantada ao ouvir isso, Richard. Mas deixou seus sentimentos muito claros na outra noite. Acho que é bom saber que só ficarei aqui até que se relacione com Kelly como um pai de verdade — disparou, passando por ele.
— Então nunca irá embora.
Laura parou bem atrás da poltrona dele, fitando-o com um misto de raiva e simpatia. As chamas refletiam-se nos cabelos escuros, nos ombros largos, e parte dela desejava sentar-se no colo dele, aninhar-se em seu peito. A outra parte queria fazê-lo ter um mínimo de bom senso.
— Não posso ficar aqui para sempre, Richard.
Ele levantou-se de repente, virando-se para ela.
— Temos um contrato.
Ao ouvir o pânico na voz dele, Laura percebeu que não devia tê-lo ameaçado. Mas era tão teimoso...
— Temos, sim — assegurou baixinho, e ao erguer a mão para tocá-lo, Richard agarrou-lhe o pulso.
— Nunca tente me tocar. É parte do trato.
Os dois ficaram em pé, muito próximos, e Laura sentiu a pele arrepiar-se, antecipando o que podia acontecer. Um só gesto e poderia puxá-lo para a luz, mas não queria destruir a confiança dele. Richard não mudaria de idéia da noite para o dia.
— Vou fazer um acordo com você — disse baixinho, perce¬bendo que os dedos dele relaxavam em seu pulso. — Você pára de falar nos meus títulos de beleza, e eu prometo que não tentarei mais vê-lo.
Ele riu, e o som másculo e vibrante fez Laura estremecer.
— Concordo.
Ele soltou-a. Laura assentiu, dando um passo para trás e apoiando-se na poltrona. Richard sentiu que ela estava fugindo e apertou com tanta força o copo que quase partiu o cristal delicado. Laura já ia saindo, quando parou junto à porta.
— Só mais uma coisa.
Ele virou-se. Ela estava de costas.
— Sim?
— Sou uma pessoa sincera. Costumo dizer o que sinto. Se me deixar furiosa, vou dizer o porquê... — ela virou-se, olhando para o homem escondido nas sombras —, não vou pagar pela traição dela... Nem pela fraqueza.
Estava falando de Andréa, e Richard entendeu muito bem. As duas mulheres não se pareciam em nada, mas mesmo assim não queria vê-la olhar para ele como Andréa fizera no passado.
— Não preciso vê-lo, Richard, para saber que tipo de homem realmente é. — Ela saiu para o corredor, e os pés nus mal haviam tocado o primeiro degrau da escada quando ele a al¬cançou. Laura gelou, mas não se mexeu.
O calor do toque dele penetrava o tecido do roupão, e fe¬chando os olhos, ela esperou. Seus joelhos fraquejaram ao sen¬ti-lo tão perto, e apoiou-se no corrimão.
— Acha que sou tão correto... — sussurrou, junto ao ouvido dela, a respiração cálida tocando-lhe o pescoço.
— Sei que é.
— Bem, talvez deva se lembrar que não tenho uma mulher há muito tempo.
— Que elogio — sussurrou ela, com a garganta seca.
— É mesmo — retrucou Richard. — Porque é a única coisa que me fez desejar sair das sombras.
Ela estremeceu, sentindo a boca seca.
— Que droga, Laura — disse ele, num tom que expressava o mesmo desejo que ela sentia. — Quando olho para você, tudo que quero é sentir seu gosto e...
Um calor intenso a envolveu, e Laura colocou a mão sobre o coração, que batia disparado.
— Sentir sua pele nua sob a minha boca...
Ela sufocou um gemido.
— E estar... — a voz dele baixou ainda mais —, dentro de você...


Ansiosa pelo capítulo V
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